terça-feira, 19 de abril de 2011

A Educação é a maior (e única) arma



“Ô tia, bom mesmo foi a pena que o juiz me deu. Lá a gente tem que cuidar de jardim, limpar as salas, mas tem lanche e joga bola. Muito melhor do que essa porcaria de aula, que não serve pra porra nenhuma”.


A frase acima é de autoria de um menino de 16 anos, aluno da oitava série do ensino fundamental numa escola da periferia de Ilhéus e foi dita em voz alta, para a professora e para quem mais quisesse ouvir.

Poderia ter acontecido na periferia de Itabuna, não faz diferença.

O aluno, detido pela polícia por cometer pequenos furtos, referia-se às chamadas medidas socioeducativas, impostas pela Justiça, em ocorrências que dispensam o internamento em instituições que, muitas vezes, funcionam mais como escolas do crime, espécie de pré-vestibular para a bandidagem.

As medidas socioeducativas permitem que, mantido no convívio com a família e acompanhando por uma equipe multidisciplinar que inclui educadores, assistentes sociais e psicólogos, o menor que cometeu ato infracional possa ser ressocializado.

Na maioria dos casos dá certo, contribuindo para que meninos e meninos revertam o caminho inevitável do crime e levem uma vida digna.

Em outros, nem tanto.

A sensação do aluno que acha a medida socioeducativa é um piquenique e entende que estudar é perda de tempo, encontra ressonância e muitas outras escolas, onde é tênue e facilmente o muro frágil que separa a educação da criminalidade.

Quem é profissional de educação conhece, perfeitamente, essa dura e ameaçadora realidade.

Professores e funcionários das escolas são ameaçados e às vezes até agredidos por alunos. Alguns estudantes chegam a exibir armas, como quem exibe um diploma ou um boletim repleto de notas 10.

O tráfico de drogas é feito quase abertamente nas proximidades das escolas. Do vício, estudantes passam a soldadinhos do tráfico, vítimas fáceis e fatais dessa guerra cotidiana.

Seria suficiente para desanimar, jogar a toalha e achar que as coisas não têm mesmo jeito?

Que estudar é uma porcaria que não serve para nada?

Ao contrário, situações como essas devem servir de estímulo para que os profissionais envolvidos com a educação e a sociedade como um todo encarem o desafio de fazer da escola uma porta de acesso para a cidadania e a inclusão.

Não á tarefa fácil, envolve políticas públicas, força de vontade e mobilização.

Mas é a principal, senão a única, arma para evitar que meninos e meninas troquem a caneta pelo revólver e o livro pela droga.

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