terça-feira, 19 de abril de 2011

Imprensa do mal

Omar Nasser Filho*
A Editora Abril passou dos limites. Em matéria de capa da edição lançada na semana do dia 4 de abril último, afirma com todas as letras que "O terrorismo finca raízes no Brasil". Trata-se, a dita "reportagem", de uma iniciativa altamente perigosa, condenável, inconsequente, irresponsável e temerária, pois coloca sob suspeição uma comunidade composta por milhares, talvez milhões, de árabes, seus descendentes e revertidos brasileiros que professam a nobre, pacifista e humanista Religião Islâmica em nosso país.

Trata-se de um ato claro de disseminação do preconceito, baseada em meias-verdades, fatos descontextualizados, acontecimentos relatados de maneira parcial e, como é do feitio de Veja, mentiras puras e simples.

Trata-se, igualmente, a matéria, de ato extremamente grave, pois atenta contra a integridade moral e, no limite, física, de cidadãos brasileiros e imigrantes muçulmanos que adotaram o Brasil como pátria, cidadãos pacíficos e cumpridores de seus deveres, pagadores de impostos e eleitores, cidadãos de um Estado de Direito que não podem ser ofendidos em seus valores e não podem ter atacado de maneira tão torpe o seu direito de professar uma fé. Atos como o de Veja criam clima propício de animosidade contra os muçulmanos, que convivem harmonicamente no Brasil com diferentes grupos étnicos e confissões religiosas que habitam nosso país

Lembremos que os cristãos no Império Romano foram vítimas de campanhas difamatórias. No limite das perseguições que sofreram por parte do poder pagão de Roma, foram lançados ao fogo e atirados às feras; na Alemanha da década de 1940, o assassinato de judeus foi precedido de uma ampla campanha difamatória lançada pela máquina de propaganda nazista, que fez exatamente o que Veja e o Grupo Abril fazem agora: construir uma imagem extremamente negativa de um grupo étnico e religioso que, no entender de Veja e dos grupos cujos interesses inconfessáveis defende, é considerado "inconveniente".

Temos esposas, filhos netos e, talvez, alguns muçulmanos que vivem no Brasil tenham sido agraciados com a bênção de ter bisnetos vivendo nesta terra abençoada, muito distante do terrorismo praticado, por exemplo, pelos sionistas homiziados na Palestina. Não podemos admitir que Veja e o Grupo Abril continuem a agir impunemente, lançando aleivosias, suspeitas mal-fundadas e disseminando o preconceito contra os muçulmanos e quaisquer grupos étnicos e religiosos que vivem no Brasil, sob pena de nós e nossos filhos, nossos netos e bisnetos, serem, daqui a pouco, apontados nas ruas, tornar-se alvo de atos de violência, nossas casas serem pixadas, apedrejadas, nossas mesquitas e lojas queimadas e nossos cemitérios violados!!

As entidades islâmicas e as organizações de defesa dos direitos humanos de todo o Brasil devem acionar nossos representantes nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas, na Câmara e no Senado Federal, para que sejam votadas moções de desagravo aos muçulmanos brasileiros! As entidades islâmicas e as organizações de defesa dos direitos humanos de todo o Brasil devem mostrar a Veja e à Editora Abril o erro terrível que cometem ao disseminar o preconceito contra quem quer que seja.

*Omar Nasser Filho é jornalista, economista e mestre em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)

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