segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Lendas, bruxas e fadas


Conta a lenda que há duas décadas, uma bruxa, invejosa de tanta fartura, que fazia do Sul da Bahia uma ilha de prosperidade em meio ao Nordeste subdesenvolvido, lançou uma praga mais voraz do que as sete pragas do Egito.

A bruxa pode ser uma lenda, mas a praga não.

Os efeitos da vassoura-de-bruxa, devastadores, são mais do que conhecidos, descapitalizando e endividando produtores, levados a planos de recuperação da lavoura equivocados; e lançando ao desemprego milhares de trabalhadores rurais, que sem outra opção, criaram imensos bolsões de miséria nas periferias abandonadas de Itabuna e Ilhéus..

Houve choro e ranger de dentes, e em meio à vã esperança de que a crise fosse passageira e que o cacau voltasse aos míticos tempos dourados, as dívidas foram se tornando impagáveis e a inadimplência explodiu.

Entrou-se naquele círculo vicioso em que, sem dinheiro para quitar as dívidas, o produtor se viu impedido de obter novos créditos para investir em clones de cacaueiros resistentes à vassoura-de-bruxa. Milhares de propriedades rurais foram relegadas ao abandono e a produção de cacau, devastada pela doença, foi reduzida a inacreditáveis 90%.

Como era previsível, a questão da dívida se tornou a ´pedra de toque´ que praticamente engessou o Sul da Bahia nesse período sombrio, em que só não chegamos ao fundo do poço, graças a algumas ações em áreas como turismo, comércio, prestação de serviços e a criação de pólos de saúde e ensino superior.

Quanto ao cacau, de exportador o Sul da Bahia passou a importador, o que dá a exata dimensão do tamanho da crise.

Pois bem, num desses raros momentos em que todos os segmentos regionais de unem em torno de um único objetivo, a questão da dívida dos produtores rurais recebeu um tratamento especial, criando condições efetivas para que ela fosse equacionada.

Após exaustivas negociações, o equacionamento da dívida atende 98% dos 13 mil produtores de cacau inadimplentes, com vantagens que da remissão (perdão) do débito para micro-produtores a descontos que podem chegar a 90% do valor do débito, além da inclusão do cacau no FNE Verde, que amplia o prazo de pagamento para 20 anos, com 8 de carência.

Mesmo com todas essas vantagens -e é bom deixar claro que essa é a derradeira chance- ainda há os que resistem em renegociar os débitos, na velha mania de continuar vertendo lágrimas enquanto a vida segue ou à espera de um absolutamente impossível perdão do valor total da dívida.

Chega de choro.

A hora é de virar a página e a partir da renegociação das dívidas e da obtenção de novos créditos, iniciar a retomada da produção de cacau resistente à doenças e de alta produtividade e a verticalização, que inclui a fabricação de chocolate, agregando valor ao nosso principal produto, além de programas de diversificação como dendê, seringueira, pupunha e fruticultura.

Quem sabe se, a partir dessa mudança de paradigma, daqui a duas ou três décadas, não se conte a lenda de uma fada redentora que derrotou a bruxa e nos recolocou num novo e duradouro ciclo de desenvolvimento sustentável.

Esqueçamos, por ora, fadas, bruxas e lendas.

O nome dessa nova página que precisamos escrever a partir de agora atende pelo nome de trabalho, aliado a uma elevada dose de união e de espírito empreendedor.

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