quinta-feira, 27 de agosto de 2009

PLANETA HOSPÍCIO


Algumas pessoas são tão excepcionais em suas áreas de atuação que somos tentados a perguntar: de que planeta elas vieram?

Pelé, por exemplo, veio do Planeta Bola.
Usain Bolt, do Planeta Vento.
Airton Senna, do Planeta Carro.
Os Beatles, do Planeta Música.
Michelangelo, do Planeta Arte.
Shakespeare, do Planeta Literatura.

Em sendo assim, e ainda que sob uma ótica nem tão excepcional, cabe perguntar: afinal, de planeta, de que galáxia, de que constelação localizada a bilhões de anos luz da Terra veio o senador Eduardo Suplicy?

A cena patética de Suplicy, dono de uma biografia ilibada (a palavra soa tão estranha quanto seu significado para a esmagadora maioria dos nossos políticos), ao exibir um cartão vermelho para o presidente do Senado José Sarney é digna de entrar para o anedotário.

Ou para o compêndio dos melhores (piores?) momentos daquela outrora respeitável e vetusta Casa de Leis, hoje habitada por uma fauna inacreditável que vai de Renan Calheiros a Fernando Collor de Melo, passando por Edmar Moreira, Wellington Salgado e companhia limitada.

O que levou Suplicy, muito provavelmente recém saído de sua nave espacial e alheio ao que está acontecendo à sua volta, ao cometer o gesto simbólico, universalizado pelo cartão vermelho, de expulsar José Sarney do comando do Senado?

Alguém deveria ter avisado ao senador paulista que foi justamente o seu partido, o PT, que há menos de uma semana-luz salvou a pele de Sarney, que apesar dos inúmeros pontapés na ética parlamentar não recebeu sequer um cartão amarelo e continua ai, todo pimpão,como capitão do time dos pesadelos do eleitor/torcedor brasileiro.

Se Suplicy quis produzir uma cena de impacto, realçando para o país sua indignação contra a armação que juntou a base aliada do governo para tirar Sarney do fogaréu, produziu uma cena ridícula, inoportuna e fora de tom, expondo ainda mais o seu partido, com as feridas ainda abertas pela inusitada bóia de salvação que ofereceu ao coronel maranhense.

Foi, a bem da verdade, magistralmente coadjuvado pelo senador Heráclito Fortes, do DEM, que com sua involuntária aparência de humorista de filme pastelão, produziu um daqueles bate-bocas que estão se tornando comuns no Senado.

Heráclito, diante de um Suplicy transtornado, apoplético e atropelando as palavras, só faltou tomar o cartão vermelho das mãos do colega, para entregá-lo ao presidente Lula, que não é mãe, mas foi colocado no meio da pendenga.

Em determinado momento da refrega pareceu que Suplicy, que em tempos remotos foi lutador de boxe, chamou Fortes para resolver a querela fora do plenário. Literalmente “no braço”.

Não chegaram a tanto, mas está faltando muito pouco para que aquele circo descambe para a briga de rua.

Quem sabe um dia, contaminada pelos eflúvios de um hipotético Planeta Vergonha na Cara, a gente não decida dar um Cartão Vermelho para os maus políticos, elegendo pessoas comprometidas com os interesses do Brasil e dos brasileiros.

Pronto, esse texto acaba de ser contaminado pelo Planeta Sonho ou pelo Planeta Delírio.