quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Atire a primeira pedra
(lute contra você mesma)




Laiala Paiva dos Santos tem 20 anos e é mãe de um menino de um ano e três meses.

Mal completou o primeiro grau, não sabe o que é emprego fixo e mora numa casa paupérrima no bairro da Califórnia, nas bordas da inchada e empobrecida periferia de Itabuna.

Laiala é mais uma entre milhares de moças que conheceram a maternidade antes mesmo de romper a adolescência e que não conhecem outro caminho que não o da exclusão social.

É uma dessas pobres coitadas condenadas ao anonimato de uma vida sofrida e sem perspectivas.

Ou era.

O que tira Laiala do anonimato é a luta que trava contra ela mesma. Uma luta inglória e ingrata, em que ela se agarra a qualquer chance para vencer.

Jovem, pouco instruída, sem emprego, mãe precoce, Laiala foi apresentada há quatro anos a um pedacinho de pedra branca que lhe oferecia uma espécie de anestesia para todos os seus males. Um bálsamo para suas dores. Um alívio para suas angústias.

A primeira pedra que, por mais que tente, Laiala nunca esqueceu.
Por que, depois da primeira, veio a segunda, veio a terceira, vieram a quarta, a quinta, a sexta...

Vieram infinitas pedras, porque a atual exige sempre a próxima e a próxima vai exigir mais outra, numa roda do vício que não para de girar.

Se a primeira pedra foi de graça, as demais teriam que se pagas.

Mas, pobre, sem instrução e ainda por cima com as marcas das pedras pelo corpo, como conseguir emprego, não para alimentar o filho, mas o vício?

Óbvio ululante: Laiala saltou da exclusão para a marginalidade.

Começou a cometer pequenos furtos, passou pelos arrombamentos e chegou aos assaltos a estabelecimentos comerciais.

E talvez tivesse chegado ainda mais longe na escala do crime, não tivesse sido presa após assaltar uma loja no centro de Itabuna.

Uma viciada em drogas, presa por assalto não chega a ser nenhuma novidade.

Mas, a história de Laiala embute sim uma novidade.

Ela reconhece os horrores do crack, a tal pedra que oferece o paraíso e entrega o inferno, e hoje luta para sair do vício e voltar à vida.

Num desabafo dolorido, Laiala declarou que prefere ficar presa, para não voltar às ruas e usar drogas.

“Não quero que meu filho cresça me vendo assim”, afirmou a jovem.

Nem que seu filho, empurrado na mesma vala comum da falta de oportunidades, um dia encare a primeira pedra como um portal da felicidade.

Laiala Paiva dos Santos.

Decididamente, não é o caso de mantê-la presa.

Nem de atirar a primeira pedra.

E sim de oferecer a mão para ajudá-la a vencer essa luta contra ela mesma.

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