sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Alô, alô Marciano, aqui quem fala é do Senado



Um Marciano que decidisse que era hora de estabelecer contato com os terráqueos e aleatoriamente escolhesse Brasília para pousar e, mais aleatoriamente ainda, aterrissasse com sua nave brilhante no plenário do Senado na tarde/noite de quarta-feira, certamente ficaria sem entender que povo é esse, que entre outras excentricidades habita um planeta chamado Terra, mas cuja superfície é majoritariamente composta de água.

O Marciano se recusaria a acreditar no que esta presenciando.

Na tribuna do Senado, estava um senhor de idade avançada, com fartos bigodes negros escandalosamente tingidos.

O plenário, como uma arena romana, dividia-se entre os que desejavam seus despojos e os que defendiam sua pele com unhas, dentes e todas as armas disponíveis.

Circo talvez caísse melhor que arena.

No picadeiro, perdão, na tribuna, aquele senhor de postura sóbria, olhar compungido, parecia a encarnação do bem em sua irrefreável luta contra o mal.

Gestos teatrais, se defendia de uma série de acusações, tais como desvio de recursos, favorecimento de um de seus netos na intermediação de empréstimos consignados, obtenção de emprego público para o namorado de uma de suas netas, recebimento ilegal de auxílio moradia, sonegação de impostos, autorização de atos secretos que encobriam todos os tipos de irregularidades, etc., etc.

Negava tudo, jurava ser o baluarte da ética e da moralidade, lembrava sua folha corrida, perdão de novo, sua biografia impoluta.

E se dizia vitima de uma clamorosa, insidiosa e sistemática campanha de perseguição da mídia.

Se as câmeras de televisão e as lentes das máquinas fotográficas focassem mais amiúde no rosto daquele senhor, talvez captassem uma lágrima fortuita, tamanho o seu desamparo.

Incrédulo e ainda anônimo em sua nave, posto que continuava invisível para os mortais comuns, o Marciano não conseguia entender como alguém poderia fazer tanto mal àquele velhinho, atacar uma pessoa de postura cavalheiresca, um fidalgo.

E essa tal de mídia, então!

O Marciano ainda não compreendera bem o sentido da palavra, mas se estava causando tão mal àquele pobre senhor, não deveria ser lá coisa que preste.

Não estivesse em missão de paz, sacaria de seu arsenal capaz de transformar as armas atômicas em brinquedinho de criança, e aniquilaria a mídia, para que aquele senhor fosse poupado de tantos dissabores.

O Marciano só ficou um pouco mais tranqüilo, certamente porque além de desconhecer o que significa mídia também desconhece o significado da palavra impunidade, quando o velhinho bigodudo foi absolvido de algumas das muitas coisas que (injustamente, acredita piamente o ET) lhe imputam.

Não fosse isso e, penalizado com as agruras daquele quase mártir, o Marciano, antes de decidir adiar por alguns milênios o contato não tão imediato assim com os terráqueos, embarcaria o velho senhor em sua nave, onde ele desfrutaria da paz eterna, longe dos seus algozes e perseguidores.

Não faria mal nenhum se levasse junto Renan Calheiros, Fernando Collor de Mello, Wellington Salgado, Edmar Moreira e mais alguns outros.

O risco seria o planeta vermelho ficar ainda mais vermelho do que já é.

De vergonha, obviamente.

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