sexta-feira, 17 de abril de 2009

Deva, não negue. Pague, senão morre


Nestor Bispo dos Santos, 22 anos, foi morto com vários tiros e seu corpo jogado num terreno baldio em Itabuna.

Era usuário de drogas, tinha passagens pela polícia por ter cometido pequenos delitos e estava devendo aos traficantes.
Não tinha dinheiro para pagar a dívida, não conseguia parar de fumar crack e diante das ameaças que vinha sofrendo, confessou à irmã que pretendia sair de Itabuna.

Como-se vê, não deu tempo.

Nestor é mais uma das inúmeras vítimas de uma lei perversa no mundo da droga: não importa o quanto deve ao traficante, podem ser irrisórios 10 reais ou 100 reais. Não pagou, morre.

É a maneira que os traficantes encontram para desencorajar novos calotes.

A última vítima foi Nestor Bispo, mas antes dele vieram outros, outros e mais outros. Não passa um dia em Itabuna sem que ocorra pelo menos um assassinato que tenha como pano de fundo o tráfico de drogas.

Embora o consumo de drogas atinja todas as classes sociais, a explosão de violência afeta principalmente os usuários da periferia da cidade, que entram na espiral do vício, são levados a cometer pequenos furtos (que invariavelmente começam dentro da própria casa) e inicia um caminho sem volta e com final previsível.

Boa parte das vítimas dessa guerra nada santa travada em torno do tráfico de drogas não cruzou a barreira dos 20 anos de idade.

Adolescentes e até crianças são levadas ao vicio, tornam-se dependentes e muitos viram soldados do tráfico, os chamados “aviões”, plenamente descartáveis quando se tornam incômodos, dada a profusão de mão de obra à disposição dos traficantes.

É uma guerra que se trava na “arraia miúda” do tráfico, já que os grandes fornecedores raramente dão as caras, e quando dão não costumam ser importunados por uma polícia inoperante e muitas vezes conivente.

Alguns pontos de droga na periferia de Itabuna (e de tantas outras cidades brasileiras é bom que se diga) são tão conhecidos que, se não houver conivência policial, temos aqui um surto de cegueira digno de entrar nos compêndios da medicina.

Por conta do tráfico e da facilidade com que a droga se espalha, cada vez mais nossos jovens tem suas vidas ceifadas de maneira brutal.
Óbvio que a questão da droga não se resume a repressão, embora ela funcione.

O consumo de crack, por exemplo, ganhou tamanha proporção que se tornou uma questão de saúde pública.

Uma autêntica calamidade, que precisa ser combatida principalmente com a adoção de política de inclusão social que ofereça aos nossos jovens pelo menos uma alternativa de vida.

Enquanto essa alternativa não surge, o destino de Nestor Bispo e de seus colegas de vício e de infortúnio está selado.

Substitui-se o famoso “devo não nego, pago quando puder”, “deve, não negue, pague, senão morre”.

Um comentário:

maria olhão disse...

parabéns pelo texto cara,vou aproveitá-lo para discussões/provocações em aulas de história, sociologia, filosofia, bem como em abordagens dos temas transversais relacionados a saude, juventude etc.