segunda-feira, 20 de abril de 2009

O CACAU EM REVISTA



A revista História da Biblioteca Nacional, edição de abril, traz como manchete de capa e matéria especial o Cacau. A matéria, dividida em três partes, conta a história da descoberta pelos europeus do fruto cultuado pelos maias, as delicias do chocolate e fala sobre a cultura que marcou a civilização cacaueira no Sul da Bahia.

Vale a pena comprar nas bancas. Leia, abaixo, um dos trechos da reportagem:

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Paraíso dos preguiçosos

Viajantes estrangeiros se espantavam com o “atraso” do povo de Ilhéus. Seus relatos influenciaram a imagem da região

Quando se fala da região cacaueira do sul da Bahia, a primeira imagem que vem à cabeça é a dos livros de ficcionistas locais, como Jorge Amado (1912-2001) e Adonias Filho (1915-1990). Eles retratam com riqueza de detalhes os valores, as convenções sociais e as práticas políticas dos tempos em que a produção prosperava, principalmente no início do século XX.
Mas como a memória é seletiva, eles privilegiam uma imagem exótica e sedutora – seja pela exuberante paisagem tropical, seja pelas mulatas cor de canela. Em um passado mais remoto, o retrato que se fazia da região era bem diferente. Relatos de viajantes estrangeiros, feitos numa época em que o cacau ainda nem tinha se consolidado como “produto-rei” por ali, revelam outras características de Ilhéus e de seu povo. Com o filtro do olhar europeu.
A primeira tentativa de cultivo na região ocorreu quase dois séculos antes de o cacau realmente vingar e se tornar símbolo do lugar. Foi uma iniciativa da Coroa portuguesa, em 1780, e tinha tudo para dar certo: o chocolate fazia sucesso na Europa e a demanda pelo produto estava em alta, inflacionando os preços. A rainha, D. Maria I, ofereceu sementes da planta aos moradores de Ilhéus, comprometendo-se a pagar um preço mínimo pelo produto. O cultivo não exigia maiores cuidados além do trabalho de colher, mas, apesar das facilidades oferecidas, os agricultores consideraram a proposta uma “bagatela”. A grande maioria continuou se dedicando ao açúcar e a produtos de subsistência, como arroz e mandioca. A exceção foi o Engenho do Acarahy, que quatro anos depois da chegada daquelas primeiras sementes já estava com uma roça bem formada, com mais de seiscentos pés. E isso “sem o menor esforço”. Mas o panorama pouco se alterou com o passar do tempo, e quase não se ouviu falar da capitania de São Jorge de Ilhéus ou do cacau até o século XIX. (...)

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