O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal de Justiça, condenou a maneira espetaculosa com que foram feitas as prisões do banqueiro Daniel Dantas, do investidor Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pita.
Por “espetaculosa”, o ministro quis dizer que a operação da Polícia Federal foi midiática, buscando apenas os holofotes. Condenou a colocação de algemas nos detidos e não é de todo equivocado supor que considere as prisões desnecessárias.
Não é a primeira vez que uma autoridade de peso se volta contra o ´modus operandi´ da Polícia Federal, especialmente quando as operações envolvem gente graúda do mundo político ou empresarial.
A crítica é sempre contra a tal “espetacularização” das prisões, como se o fato da pessoa ser importante/rica/poderosa/influente lhe concedesse algum tipo de privilégio. Já não bastam os inúmeros outros privilégios de que essas pessoas desfrutam?
O mais incrível é que essa indignação parece se restringir apenas aos figurões. Não podem ser abordados, não podem ser filmados nem fotografados. Algemados, então, é um verdadeiro sacrilégio.
E quanto aos mortais comuns?
Para esses, a lei, mesmo que ela impute verdadeiros absurdos.
No domingo passado, o programa Fantástico, da Rede Globo, mostrou um caso que beira o ridículo, embora rigorosamente dentro da lei. Um senhor com cerca de 70 anos, está preso juntamente com marginais de alta periculosidade, pelo fato de manter umas vaquinhas pastando na beira de uma rodovia.
A Justiça entendeu que as vaquinhas ofereciam risco de acidentes (e ofereciam mesmo) e depois de seguidas advertências, o dono dos animais foi parar na cadeia. E de lá não saiu até agora, por não dispor de um bom advogado.
E -porque não dizer- por não despertar a indignação de nenhum ministro, não contra a “espetacularização” da prisão do criador de vacas, mas da indecência de manter preso um sujeito que cometeu uma infração que é coisa de monge franciscano perto da roubalheira e da corrupção em alta escala e de alto escalão, que se instalou feito praga nesse país.
Para o pobre coitado (em todos os sentidos) que rouba uma lata de leite e vai parar na cadeia, que não existe protesto e nem um habbeas corpus providencial.
Para o rico que desvia milhões de reais, há sempre alguém disposto a defender e encontrar uma brecha na lei que garanta a doce liberdade.
Num país em que todos são iguais perante a lei, mas que na prática uns são mais iguais do que os outros, é confortante ver gente da estirpe de Dantas, Pita e Nahas atrás das grades.
Ainda que o espetáculo seja de curta temporada.
Em breve, reabrem-se as cortinas, perdão, as grades e recomeça o show de impunidade.
E nisso o trio tem uma companhia que parece ilimitada.
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