Desesperado porque não conseguia atendimento para seu filho numa unidade de saúde pública, o pai deixou o garoto com um vigia do posto e se dirigiu a uma delegacia de polícia, onde registrou queixa por negligência e omissão de socorro.
A medida, extrema e inusitada, garantiu o atendimento ao menor.
O fato aconteceu em Salvador, mas poderia perfeitamente ter acontecido em Itabuna, onde a despeito de gastos astronômicos com propaganda, a saúde pública vive uma situação caótica, que por desnecessário, há muito deixou de receber o apodo “está na UTI”.
Melhor dizer que está em fase terminal, moribunda, menos pela falta de recursos, já que o setor recebe cerca de 130 milhões de reais por ano de repasses federais e estaduais, e mais por absoluta incapacidade de gestão, para dizer o mínimo.
O Hospital de Base, que por uma imensa ironia é a principal obra e ao mesmo tempo o principal fracasso administrativo das quatro gestões do atual prefeito, é um exemplo pronto e acabado dessa situação que penaliza, principalmente, a população mais carente, que não tem acesso a um plano de saúde.
No HdB, falta tudo, de remédios básicos a médicos. Chegou-se a um ponto em que familiares dos pacientes são obrigados a levar lençóis, toalhas e alimentação. Estagiários de Medicina e Enfermagem se dizem abismados com a falta de estrutura e não raro observam que, antes de receitar um remédio aos internados, médicos procuram saber o que está disponível no estoque.
Uma enfermeira está sendo processada porque, no afã de ajudar um paciente manipulou um remédio e o doente veio a falecer. Como se a culpa fosse dela e não de quem dirige (?) o hospital. O Pronto Socorro tornou-se um “teatro de horrores”, com pacientes deitados no chão e uma espera interminável pelo atendimento.
A situação não é diferente nas unidades de saúde, onde também faltam remédios e médicos. O nome pomposo, Unidade de Saúde da Família, é quase uma afronta às pessoas que procuram atendimento e não conseguem receber nem medicamentos básicos.
Centros de referência como o Creadh, o Cepron e o Brasil Sorridente minguaram e a Farmácia Popular só não foi pelo mesmo caminho porque, providencialmente, o Governo Federal manteve o controle de gestão através de um convênio com a Fundação Oswaldo Cruz.
Há exatos quatro anos, a saúde pública foi a pedra de toque da campanha eleitoral em Itabuna, quando no afã de obter votos, prometeu-se o impossível, como o inacreditável atendimento no Hospital de Base em quatro minutos, promessa devidamente registrada para a posteridade.
Descartado o impossível, por impossível que é, deixou-se de fazer ao menos o possível, gerando o caos que está aí.
Saúde pública, que isso fique bem claro (porque uma nova campanha se inicia) não é moeda eleitoreira, é um direito do cidadão.
Quando se torna caso de polícia, o jeito é recorrer ao delegado.
Se o exemplo de Salvador for seguido, haja polícia para tanta demanda.
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