Uma rádio comunitária recebe a ameaça de fechamento por veicular notícias que contrariam os interesses de um deputado. Em meio a discussões sobre a liberdade de imprensa e acesso à informação, o assunto é colocado em votação. A sociedade, ciente de que a comunicação ocupa o cerne dos conflitos entre os interesses dos poderes dominantes e das comunidades, decide pela permanência da rádio no ar. Essa foi a história contada na segunda plenária da 1ª Conferência de Comunicação Social da Bahia, aberta na manhã de domingo (8) na Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).
O drama da rádio em questão foi encenado pelo grupo teatral 1º de Maio, de Salvador, que abordou de forma divertida a necessidade de reformulação das políticas públicas de comunicação. A peça mostrou ainda que a comunicação deve ser vista como um direito do cidadão, e não como um objeto de manipulação de poucos que querem controlar o que deve ou não ser divulgado. “Comunicação é um tema público, e não privado. Diz respeito à identidade de um povo, logo tem que estar aberta à discussão para toda a sociedade. E esse é justamente o objetivo da conferência: tratar a comunicação como política pública”, destacou o Assessor Geral de comunicação do estado, Robinson Almeida.
O secretário de Agricultura, Geraldo Simões, lembrou a experiência das cinco rádios educativas, instaladas em escolas da rede municipal de ensino, durante sua gestão como prefeito. “As rádios ofereciam entretenimento e orientação a população sobre noções de saúde, além de incentivar a presença dos alunos em sala de aula através da mobilização da família”, disse Simões, destacando que “a democratização dos meios de comunicação e a transparência nas relações com a sociedade contribuem para a implantação de um modelo de gestão participativo”.
PARTICIPAÇÃO DE ESTUDANTES
Outros temas pertinentes, como a diferença entre a opinião publicada e a opinião pública, além de mitos como a célebre frase de que “uma mentira contada dez vezes torna-se verdade”, foram discutidos pelas cerca de 245 pessoas que se inscreveram para a plenária em Ilhéus, entre profissionais da área, estudantes e representantes de segmentos da sociedade civil. A Bahia é o primeiro estado do país a realizar uma conferência com esse tema.
Os alunos de comunicação da Uesc (habilitação para Rádio e Tevê) tiveram participação expressiva, como o jovem Tássio Brito, também coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da universidade. “A comunicação não pode ser algo que fique nas mãos de pequenas minorias. Deve haver democratização do acesso e da disponibilidade do conteúdo, cujo conhecimento é direito de todos”, falou ele. Sua colega Égila da Silva Passos concorda com ele e espera que as discussões promovidas no evento sejam colocadas em prática. “Uma comunicação eficiente depende da atitude
de todos nós.
Na mesa de abertura da conferência, os discursos de representantes da sociedade deixaram claro que a população deve entender que o governo e a imprensa privada, quando prestam informações, não estão fazendo um favor, e sim atendendo a um direito que o cidadão tem de receber essas informações. E o público também deve ter em mente que comunicação não significa apenas acessar orkut e MSN, muito menos digerir sem senso crítico o que é veiculado no telejornal de maior audiência ou no periódico de maior circulação.
“Hoje, a comunicação ultrapassou os limites da profissionalização, pois todo mundo comunica e produz informação, principalmente com o advento das novas mídias. A comunicação é inerente ao ser humano e é muito importante que esta discussão passe por todos os segmentos da sociedade”, afirmou Rosely Arantes, representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT-BA) no evento. Após a abertura no auditório, os participantes da plenária passaram discutiram os quatro eixos temáticos colocados em pauta: cidadania e novas tecnologias de informação; políticas públicas de comunicação; comunicação e educação e comunicação e desenvolvimento territorial.
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