terça-feira, 28 de dezembro de 2010
“Mãinha, Papai Noel usa arco e flecha?”
Famílias que habitam áreas rurais em Ilhéus, Una, Buerarema, Pau Brasil e Itaju do Colônia atravessaram o Natal e aguardam o Ano Novo ansiosas.
Não, elas não esperam um Papai Noel tardio ou um anjo anunciando os augúrios de 2011.
O que elas esperam, na verdade o que elas temem, é que a qualquer momento tenham suas propriedades invadidas por indígenas ou supostos indígenas, e dali expulsas muitas vezes com extrema violência.
As invasões, que os índios chamam de retomada, se tornaram rotineiras a partir do momento em que a Funai aprovou um relatório que reconhece como pertencente aos tupinambás uma extensa área que compreende parte dos municípios de Ilhéus/Olivença, Una e Buerarema.
Embora o documento não tenha poder para criar a reserva indígena, serviu de pretexto para o início de uma série de invasões.
Como vão longe os tempos de ingenuidade, essas invasões se intensificam em períodos em que ninguém se atreve a criar polêmica, como as eleições, ou em que parece haver um vácuo, como as festas de Natal e Ano Novo, onde ocorre um natural relaxamento das atividades do poder executivo e do poder judiciário.
E, assim como ocorreu nas eleições, as invasões voltaram a ocorrer com maior freqüência neste período natalino.
Agora, elas não se limitam à área reivindicada pelos tupinambás. Há relatos de invasões de propriedades em Itaju do Colônia, que ao lado de Pau Brasil é palco de uma disputa histórica (e não raro sangrenta) entre índios pataxós hã hã hãe e fazendeiros por extensas áreas de terras.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como diria o grande filósofo contemporâneo Tiririca.
Uma coisa é respeitar os direitos históricos dos índios, restituindo-lhes ao menos uma parte do que lhes foi espoliado durante séculos.
Outra coisa é expulsar pequenos produtores que ocupam legalmente suas terras e dali tiram o sustento, como se fossem usurpadores que efetivamente não são.
A omissão e autoridades que tentam se equilibrar no discurso politicamente correto e na reparação de injustiça -mesmo que à custa de outras injustiças- é o combustível que alimenta esse barril de pólvora de conseqüências mais do que previsíveis.
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