sexta-feira, 19 de novembro de 2010

UM RIO QUE AGONIZA


Esqueçam os poemas, as canções, os quadros.

Esqueçam os artistas que, cada qual com sua arte, o eternizaram.

Esqueçam o passado.

E, muito provavelmente, esqueçam o futuro.

Porque não há futuro diante de uma morte tantas e tantas vezes anunciada.

O Rio Cachoeira, dos poemas, das canções e dos quadros, agoniza.

O Rio Cachoeira, de passado glorioso e de inglório presente, está às portas da morte.

Assassinado por aqueles que deveriam preservá-lo.

Poemas, canções e quadros podem exaltar belezas, mas não salvam rios.

Não salvaram o Rio Cachoeira.

Porque a salvação do Rio Cachoeira depende de ação, quando o que se verifica na realidade é a completa omissão.

Sobram promessas e escasseiam realizações que possam evitar o fim eminente.

A morte do Rio Cachoeira, tantas vezes anunciada até como maneira de alertar as pessoas, agora parece inexorável.

Porque cada dia que passa é um dia a menos num processo de salvação que não chega nunca.

O Cachoeira hoje é um rio fétido, sujo, quase um insulto à natureza, ela que foi tão generosa a ponto de dar a Itabuna um rio caudaloso, de águas vibrantes, como a cidade que ele viu nascer, um século atrás.

O rio que era orgulho, agora se transformou em vergonha, não por sua própria culpa, por culpa dos que, durante décadas, o maltrataram.

Seu leito tornou-se um canal de esgotos, suas margens transformaram-se em depósito de lixo.

As garças ainda resistem, mas já dividem espaço com os urubus.
O rio vivo é cada vez mais um rio sem vida, triste legado às novas gerações.

A cidade assiste, impassível, a morte de um rio que a viu nascer e crescer.

Como se a morte de um rio fosse um processo natural, inexorável.

Não é.

Porque o que está ocorrendo com o Rio Cachoeira não tem nada de natural.

É um assassinato.

Frio, cruel e desumano.

Salvemos o Cachoeira.

Se é que ainda há tempo para isso...

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