sexta-feira, 26 de novembro de 2010

GENTE COMERCIALIZANDO GENTE


No início da década de 1990, a então pacata Buerarema, cidade sulbaiana colada a Itabuna, ganhou destaque nacional.

O município funcionava como uma espécie de berçário para crianças destinadas a adoção internacional.

Eram bebês oriundos de famílias paupérrimas, condenados a uma vida dura, que seriam salvos da miséria por casais europeus, principalmente italianos.

Mas, ao contrário do que parecia, a causa não tinha nada de nobre.

O ´berçário bueraremense´ era a ponta de um negócio altamente rentável, com sede sem Itabuna, e que envolvia agenciadores, advogados, policiais e serventuários da Justiça.

As adoções eram, pelo menos do lado brasileiro, tráfico internacional de crianças, que envolvia suborno para facilitação dos processos e até falsificações de certidões de nascimento.

Há pelo menos um caso, comprovado pela Justiça, de um recém nascido que “ganhou” novos pais, um novo nome e assim teve sua adoção agilizada, seguindo para a Itália, enquanto seus pais verdadeiros imaginavam que ele estava num orfanato em Itabuna.

O esquema foi desmontado pela Justiça, refluiu a ponto de tornar-se economicamente inviável e a vida seguiu, com Buerarema de volta ao anonimato de cidadezinha quase escondida no mapa.

E eis que a cidade está de volta ao noticiário, outra vez por conta do nada ortodoxo comércio de gente.

A Polícia Federal acaba de desbaratar uma quadrilha que traficava mulheres de Buerarema para a Espanha, jovens iludidas com promessas de emprego, mas que na verdade eram encaminhas para prostituição. Quatro pessoas foram presas, três delas residentes no município e uma na Europa, esta responsável por recepcionar e encaminhar as pessoas aliciadas para o submundo do sexo pago.

Entre os presos, uma escrivã da Justiça, que operava o ´negócio´ em família. O esquema ruiu depois que uma empregada doméstica denunciou a tentativa de aliciamento à polícia.

Eis o relato de uma das vítimas: “eles oferecem para gente mil vantagens, dizem que vamos ganhar muito dinheiro, comprar carros aqui no Brasil, que podemos fazer fortuna Espanha. Mas a maioria as meninas como eu não tem dinheiro para a viagem, dai entram as aliciadoras, que oferecem o dinheiro emprestado, pagam todas as despesas, mas a dívida feita em reais se transforma em euros, triplicando o valor. Gastei 8 mil reais na viagem e tive que pagar 24 mil reais, mais as taxas que eram cobradas para gente viver nas casas de espanhóis. No final, a gente se prostituía muito e sobrava pouco. Na verdade vivemos como escravas, pois lá não podemos reclama de nada”.

Que sirva de alerta!

E que a Justiça seja rigorosa com essa gente que comercializa gente.

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