quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A Princesinha do Tráfico



O título desse texto, além de descambar para o mau gosto, é um
aparente despropósito, porque subverte a lógica de que princesinhas,
ao menos as dos contos de fadas que embalaram gerações de crianças e
adolescentes, são mocinhas do bem, que nas estórias edulcolaradas
sempre encontram um príncipe encantado para o beijo romântico e o
final feliz para sempre.

O problema é que nestes tempos em que fadas dão lugar às bruxarias
reais, princesinhas, ou melhor, adolescentes ainda na fase dos sonhos
e das descobertas, trombam com a dura realidade.

Entre os tantos casos verificados em Itabuna ao longo do mês, retrato
de uma realidade nacional, chamou a atenção de uma menina de 15 anos,
detida pela polícia no bairro Santo Antonio, na periferia da cidade.

Em poder da adolescente, a polícia apreendeu quatro quilos e meio de
pasta base de cocaína, um quilo de crack, duas pistolas três
revólveres. A droga renderia ao seu dono, que evidentemente não é a
menina, cerca de 100 mil reais.

O que a menina provavelmente estava fazendo é o que centenas, talvez
milhares de criancinhas e adolescentes, acabam fazendo: serem usadas
como escudo pelo tráfico de drogas e de armas?

Afinal, que vai desconfiar que uma garota de 15 anos esconda em casa
uma quantia considerável de drogas e um pequeno arsenal?

Pois a polícia descobriu que escondia, como as estatísticas descobrem
e revelam que cada vez mais nossos adolescentes não apenas estão
mergulhando no uso de drogas, como também habitando o pântano do
tráfico, que muitas vezes é um caminho sem volta.

A violência, em todos os seus níveis e a droga em especial, acabam
roubando a infância de meninos e meninas que deveriam estar sonhando
com o futuro, recebendo carinho, atenção e uma educação de qualidade,
mas que, muitas vezes por absoluta falta de opções, orientação e
estruturação familiar, acabam levadas precocemente para a
criminalidade.

Nessa história, não há beijo que transforme sapo em princípe.

Há sim, monstros sempre à espreita para devora-las,
protegidos pelo fantasma da omissão de quem deveria deveria zelar e
não zela por essas crianças e adolescentes.

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