terça-feira, 20 de julho de 2010

Ocaso Bruno


Há duas semanas, desde que os holandeses encerraram o sonho do hexa, o Brasil acompanha mesmerizado uma história que se fosse novela exigiria uma exagerada dose de imaginação de seu autor.

O provável assassinado, com requintes de perversidade, da jovem Elisa Samudio, colocou no olho do furacão o goleiro do time mais popular do Brasil, campeão brasileiro e candidato a uma milionária transferência para o Exterior e a um lugar na Seleção Brasileira que vai disputar a Copa do Mundo de 2014.

O destino, feito uma jabulani tresloucada, fez uma curva imponderável e Bruno saltou da glória à tragédia, do pódio iluminado a uma cela obscura.

A julgar pelo que a polícia apurou, mesmo que não tenha sido diretamente responsável, ele teve participação ativa na trama que resultou num crime que chocou o país.

Mãe de um filho de Bruno, fruto de uma aventura típica entre moçoilas disponíveis e jogadores famosos, Elisa estava exigindo o reconhecimento da paternidade e, obviamente, uma pensão generosa por conta dos gordos vencimentos do goleiro.

O restante da história, que parece longe do final, visto que o corpo não foi encontrado e os depoimentos pouco contribuem para definir o papel de cada peça nesse jogo macabro, todos já conhecem.

O que chama a atenção no “ocaso” Bruno é a repetição da clássica história do menino pobre que abre as portas da fortuna graças a seu talento para o futebol e não tem estrutura para conviver com a fama e o dinheiro.

Felizmente raras são as histórias com um final tão trágico, mas não são raros os casos de atletas que mantém laços com a criminalidade e menos ainda os casos em que, encerrada a carreira, torrado o dinheiro em farras, carrões e outros luxos, voltam para a miséria e o limbo.

Verdadeiros fantasmas arrastando as correntes de seu infortúnio.

Os clubes de futebol encaram os jogadores como mera mercadoria (o que, na prática eles não deixam de ser), sem se preocupar em prepará-los para essa transposição, às vezes rápida demais, entre a miséria absoluta e a opulência.

É humanamente impossível que um garoto sem escolaridade, que em pouco tempo troca a favela por um condomínio de luxo, o dinheiro contado por cifras siderais e a solidão por mulheres de sonho, não vá ter a cabeça virada. Sem contar os incontáveis “amigos” que gravitam em torno de sua fama e seu dinheiro.

Feito Macarrão, que parece ter enrolado de vez a vida de Bruno, ao livrar o amigo de um “problema indesejável”.

As desventuras de Bruno, irremediavelmente morto para o futebol, devem servir de alerta a milhões de meninos que, embalados pela magia de bola, dormem e acordam sonhando em ser jogador de futebol.

A fama, ainda que momentânea, cega.

E quando isso acontece...

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