quinta-feira, 10 de junho de 2010

Luandson Passos Reis, 10 anos


-Filho, vai ali no mercadinho comprar um pacote de sal...
-Tô indo, mãe...

A frase é banal, repetida incontáveis vezes em lares Brasil afora, mundo afora.

O menino que atende ao pedido da mãe, vai ao mercadinho e se sobrar troco ainda compra uma bala, um doce, um chiclete.

E volta para casa, para quem sabe ganhar um ´obrigado filho´, um beijo carinhoso ou um ´agora pode ir brincar com seus amigos´.

Banalidades.

Não para Luandson, nem para sua mãe.

Banalidade no mundo em que Luandson vivia (sim, “vivia”) é a violência desenfreada, as pessoas de bem reféns dos bandidos, a morte transformada em rotina macabra.

O mundo de Luandson atende pelo nome de Pedro Jerônimo, bairro carente da abandonada periferia de Itabuna.

E Luandson, um menino de 10 anos, estudante do 4º ano do ensino fundamental numa escola pública em Itabuna, pode cumprir apenas metade do pedido da mãe.

O sal ficou pelo meio do caminho.

Pior, sua vida ficou pelo meio do caminho.

E no meio do caminho entre o mercadinho e a casa de Luandson havia não uma pedra, como no poema de Drummond, mas um tiro de escopeta. Dois tiros de escopeta, para ser mais exato.

Luandson foi executado por marginais a bordo de um carro que, na tentativa de atingir Alisson Santos de Oliveira, de 22 anos, que nem morador do bairro era, atiraram sem se importar em que acertariam.

Os tiros, que eram para Alisson, que foi ferido sem gravidade, acabaram tirando a vida de Luandson, o menino que saiu para comprar sal e não voltou para casa.

Melhor dizendo, não voltou para casa como o menino cheio de vida, com um imenso futuro pela frente, que acabara de atender ao pedido da mãe.

Voltou como um corpo inerte e sem vida.

Sem o sal, que agora, metaforicamente, arde em sua mãe como uma ferida que jamais irá cicatrizar, tamanha é a dor de perder um filho de maneira tão brutal.

E arde em todos aqueles que, indefesos, já não sabem a quem recorrer diante de uma violência que não poupa ninguém, que abate meninos no meio do caminho entra e casa e o mercadinho.

Arde em todos nós!

Chega!

Definitivamente, chega!

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