quinta-feira, 29 de abril de 2010

Por quem choram os deuses e os anjos da bola?


Pelé, maior jogador de futebol de todos os tempos, tricampeão mundial de futebol, o primeiro título conquistado aos 17 anos, campeão de tudo pelo Santos, parou o auge, não sem antes fazer uma escala no incipiente futebol dos EUA, onde foi popularizar o esporte e reforçar a conta bancária.

Zico, craque incontestável, Rei do Maracanã, ganhou tudo pelo Flamengo e até hoje é reverenciado pela torcida, parou no auge, não sem antes fazer uma escala no árido futebol japonês, onde, a exemplo de Pelé, ajudou a popularizar o esporte e reforçou a conta bancária.

Pelé e Zico mantêm na memória de seus fãs os gols de antologia, o talento com a bola nos pés, a genialidade e a postura de ídolos exemplares.

Garrincha, o anjo torto de pernas tortas, foi bicampeão mundial de futebol (a Copa de 62 ele ganhou sozinho) e fez misérias pela ponta direita, destroçando laterais planeta afora com seus dribles de fantasia. Quando o álcool e as contusões roubaram-lhe a magia, perambulou por time marca bufa, como Olaria e Portuguesa Carioca, fantasma de si mesmo, em jornadas deprimentes. Morreu solitário num quarto de hospital, consumido pela cachaça e pelo desespero de não ser o que um dia fora.

Romário, o baixinho capaz de transformar um palmo de grama num latifúndio de dribles e de gols, encantou as torcidas do Vasco, do Flamengo e do Barcelona, onde foi eleito o melhor jogador do mundo. Foi decisivo na conquista da Copa de 94. Quando a idade chegou e o palmo de grama transformou-se num palco vazio de talento, criou a fantasia dos mil gols. Para atingir a marca milenar, contabilizou gols de pebolim, futebol de botão, futebol de areia e babas entre casados e solteiros. Quando saiu de cena, estava prestes a entrar para o folclore, quando seu lugar merecido é no panteão dos grandes craques do futebol mundial.

Ronaldo, craque do Barcelona, campeão do mundo em 2002, maior artilheiro da história das copas, goleador implacável, exemplo de superação, ressuscitou seguidas vezes para o futebol, depois de ser dado como morto. Sua ultima ressurreição, jogando pelo Corinthians naquela que parecia apenas jogada de marketing, merece entrar para a categoria milagre.

Campeão Paulista, Campeão da Copa do Brasil, celebrado por torcidas de todo o país, Ronaldo poderia ter percebido, naquela bafejada da fortuna, que era a hora de seguir a trilha dourada de Pelé e de Zico. Pendurar as chuteiras no auge.

Não parou e o Ronaldo de 2010, o Ronaldo que na noite chuvosa de quarta-feira (seriam lágrimas dos deuses e anjos da bola?) no maior palco do futebol brasileiro, o Maracanã, mais parecia um desengonçado zagueiro do Flamengo do que um cerebral atacante do Corinthians, caminha a passos (lentos, pelo peso) para seguir a trilha da melancolia final de Garrincha e de Romário.

Ele não merece nem precisa disso.

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