quarta-feira, 7 de abril de 2010

Lições de imprudência e despreparo


Maysa Cordeiro Macedo, de 18 anos, estudante, moradora de Ibicui, pequena cidade encravada entre o Sul e Sudoeste da Bahia, é mais uma vítima da violência.

Na madrugada do último sábado, Maysa levou um tiro de escopeta, quando viajava de carona numa moto.

Ao contrário do que é praxe nessa escalada de violência insana e sem limites, a jovem não foi morta durante uma tentativa de assalto, por um desses marginais para quem a vida não tem valor algum.

Maysa foi vítima de um misto de imprudência e despreparo, baleada mortalmente por um policial que, em tese, deveria justamente protege-la e proteger os demais cidadãos de bem.

Imprudência e despreparo, sim, posto que a morte de Maysa pode ser incluída no rol das evitáveis, não fosse a conjugação desses dois fatores.

O motorista da moto em que a jovem estava passou diante de uma blitz realizada pela polícia. Como estava sem habilitação e com os documentos do veículo em situação irregular, em vez de parar, decidiu seguir em frente.

Um dos policiais que atuavam na blitz, optou pela pior maneira de fazer o motoqueiro parar: atirou. Segundo ele, para acertar um dos pneus da moto.

Se acertou o pneu, isso é irrelevante, diante da tragédia que sucedeu.

Estilhaços do tiro de escopeta atingiram a estudante, que ainda foi socorrida com vida, mas faleceu antes de chegar ao Hospital de Base de Itabuna.

O policial agiu no melhor (ou pior) estilo “primeiro atira, depois pergunta”, praxe que há muito deveria ter sido extinta da cartilha de procedimentos, mas que infelizmente não chega a ser uma exceção durante as abordagens.

Óbvio que vai se alegar que ocorreu uma lamentável fatalidade.

Óbvio também que o policial não teve a mais remota intenção de atingir Maysa.

Mas, ao agir com a imprudência com que agiu, amplificou as chances de que isso viesse a ocorrer, como de fato ocorreu.

Um pouco mais de cuidado com a capacitação e com o tipo de policial que se coloca nas ruas certamente irá contribuir para evitar que uma simples blitz se transforme numa tragédia pessoal e familiar.

Para Maysa, que pegou uma carona sem volta, será tarde demais.


SANGUELATE

“Coelhinho da Páscoa, o que trazes pra mim, um ovo, dois ovos, três ovos assim?”.

Esqueçam a ingenuidade das canções de Páscoa.

A Semana Santa em Itabuna teve cinco assassinatos, quatro deles envolvendo jovens entre 18 e 24 anos de idade.

Em vez de chocolate, sangue.

Em vez de ressurreição, morte mesmo.

E o coelhinho da Páscoa que trate de correr, antes que sobre pra ele também.

Um tiro, dois tiros, três tiros assim...

Nenhum comentário: