sexta-feira, 5 de março de 2010

A morte é uma criança


Um estudo recente mostrou Itabuna como campeã nacional nas estatísticas de violência e falta de perspectivas para os jovens.

Um título inglório, embora alguns ainda tentem, ao sabor da conveniência, brigar com os números.

E, o que dizer então, quando esses números são reverberados pelos fatos?

Fato 1: Cleiton de Jesus Santos, 16 anos, estudante. Usuário de drogas e com passagem por um centro de recuperação de adolescentes em conflito com a lei. De acordo com os vizinhos, cometia pequenos furtos para manter o vício.

Na noite de segunda feira, ele estava na calçada de uma escola pública do bairro Maria Pinheiro, na periferia de Itabuna, quando foi alvejado com seis tiros, que lhe atingiram a cabeça, o peito, as costas e os braços. Um autêntico fuzilamento.

A polícia trabalha com suas hipóteses: dívidas com traficante ou vingança de alguma vítima de furto.

Os estudantes que presenciaram o homicídio renderam-se à lei do silêncio.

Fato 2: Matheus Domingos de Jesus, 15 anos, estudante. Apesar da idade, era considerado um garoto violento e violento, que impunha medo aos moradores, do bairro onde morava, Ferradas, também na periferia de Itabuna.

A própria mãe de Matheus admite que ele tinha fascinação por armas de fogo.


Seu currículo incluía duas passagens pela polícia, uma por porte ilegal de arma e outra por ameaçar um professor dentro da sala de aula.

Na madrugada de quinta-feira, Matheus estava na porta de casa quando foi atingindo com três tiros no tórax, peito e nas costas. Uma execução sumária, sem qualquer chance de reação.

Testemunhas? Se durante o dia e o início da noite ninguém vê nada, nas madrugadas a cegueira é total.

Em situação normal, Cleiton nos seus 16 anos e Matheus nos seus 15 anos, deveriam estar estudando, sonhando com o vestibular e com um bom emprego, para tocar uma vida decente..

Nas condições anormais, em que a exclusão social joga nossos meninos e meninas para o mundo das drogas e o mundo das drogas joga esses meninos e meninas na roda viva do crime e, não raro da morte violenta, Cleiton e Matheus nem conseguem romper e barreira da adolescência.

A expectativa de vida se transforma em expectativa de morte, que se cumpre com uma precocidade e uma freqüência assustadoras.

Diante de mortes como as de Cleiton e de Matheus, é tolice questionar o título de um campeonato macabro, em que em vez de gols e vitórias se computam mortes e agressões.

É necessário, sim (e o tema aqui tem se tornado recorrente, de tanto que insistimos nisso) que se adotem políticas públicas de inclusão social que ofereçam uma alternativa concreta ao caminho das drogas e da criminalidade.

Na verdade, é o único caminho possível, sem o qual os cleitons e matheus continuarão tombando nos descaminhados da vida.

E da morte.

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