sexta-feira, 12 de março de 2010

Engolidores de espadas


O técnico Dunga, da Seleção Brasileira, virou o ano com duas espadas sobre a cabeça.

A presença de Ronaldinho Gaúcho na Copa do Mundo se tornara uma espécie de clamor nacional.

O jogador, que já foi considerado o melhor do planeta e parecia ter perdido seu vistoso futebol nas noites calientes de Barcelona, recuperara parte do brilho no Milan. Estava marcando gols e dando muitas assistências, que nos tempos de antanho a gente chamava de passe.

O que Ronaldinho fazia mesmo era se exibir contra times meia-boca, que também existem lá pela Europa. Contra os grandes, sumia em campo, mas para a mídia brasileira tinha ocorrido a improvável ressurreição do craque.

Os dois jogos contra o Manchester United, pelas oitavas de finais da Copa dos Campões, com duas derrotas do Milan, mostraram um Ronaldinho apático, arriscando um ou outro lance de efeito. Um fantasma do fantástico Ronaldinho que encantou o mundo. O Ronaldinho real de 2010.

Outra espada atendia pelo nome de Ronaldo, que igualmente já foi o melhor do mundo, a ponto de se transformar, com justiça, no Ronaldo Fenômeno.

Semi-aposentado, sem mercado na Europa, voltou ao Brasil e contrariando a tese de que iria jogar apenas com o nome, ganhou o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil pelo Corinthians, protagonista nas duas conquistas, com alguns lances e golaços que lembravam o Ronaldo do apogeu.

´Tem que ir para a Copa, é indispensável para a conquista do Hexa´, bradou-se pelos quatro cantos do Brasil.

Mas Ronaldo, brigando com a balança (e perdendo quase sempre), fez um Campeonato Brasileiro insosso e começou 2010 como coadjuvante de Dentinho, ora vejam!, que está carregando o Corinthians nas costas na Taça Libertadores, enquanto o astro-mor vagueia em campo.

As espadas se afastam da cabeça de Dunga, a mídia engole o artefato e os Ronaldos vão mesmo ver a Copa pela televisão.

Na mesma linha do festival de exagero que campeia o mundo do futebol, com sua necessidade extrema de criar mitos, vemos agora o endeusamento do time do Santos.

Bastou começar o ano bem, disparar na liderança do Campeonato Paulista e pular duas fases da Copa do Brasil, para que começassem as comparações, primeiro discretas, depois escandalosas, com o Santos do final dos anos 50 e início dos anos 60 do século passado, a maior a mais genial máquina de jogar futebol de todos os tempos.

De repente é como se Robinho, Neymar, André e Ganso fossem a reencarnação de Pelé, Coutinho, Pepe e Mengálvio. Só isso!

E depois dos 10x0 sobre o Naviraiense (quem?), com belos gols e jogadas bonitas, o frisson atingiu níveis que beiram a histeria.

Esse Santos pode até fazer história, mas ainda não ganhou absolutamente nada. E esse Naviraiense (quem?) certamente faria jogos duros com o Itabuna ou o Colo Colo.

Duros de assistir, obviamente.

Menos, gente, menos...

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