quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010


A morte, especialmente a morte trágica, tem o dom de sepultar junto com o corpo físico os defeitos de algumas pessoas.

É como se a dor do instante final tivesse uma espécie de condão redentor, capaz de transformar em pó maldades e pecados cometidos em vida.

Esse não era -e pode-se afirmar aqui com absoluta certeza- de Eliane Almeida de Oliveira, a Liu.

Liu era essencialmente uma pessoa boa, batalhadora, que irradiava simpatia e que ajudava, sem esperar nada em troca, as pessoas que enfrentavam dificuldades.

Era, enfim, uma mulher a quem os parentes e amigos admiravam e sentiam-se felizes quando desfrutavam de sua presença.

Uma pessoa que, boa como era, merecia encontrar a felicidade depois de dois relacionamentos infelizes.

E que, ao cruzar com o que parecia a felicidade tão ansiada e merecida, trombou com a tragédia.

O anjo que Eliane imaginou ter encontrado, escondia sob os gestos corteses e o sorriso fácil, a face do lobo devorador.

Quando Eliane passou a namorar com Francisco Paulo Lins da Silva, o Chico, imaginou ter encontrado o amor eterno.

Foi eterno, enquanto durou.

E quando acabou, o anjo que Eliane imaginou ter encontrado, escondia sob os gestos corteses e o sorriso fácil, a face do lobo devorador.

Eliane foi assassinada com um tiro na cabeça, num crime que chocou Itabuna e desde então mobiliza uma cidade inteira, na busca por justiça.

Chico, de quem Eliane estava havia separado-se poucas semanas antes de morrer, é o principal suspeito do crime, está foragido e com a prisão preventiva decretada.

Além de morte de Eliane, é acusado de homicídios em São Paulo e Goiânia.

Eliane provavelmente não sabia disso e pagou com a vida pela cegueira que é um subproduto do amor e, se sabia, entrou em cena um outro subproduto do amor, a compaixão, a quem os enlevados costumam atribuir dons como transformar demônios em anjos.

O fato é que Chico não agiu num impulso de raiva repentina, o que nem assim minimizaria a brutalidade que cometeu.

Evidência disso é que, coisa que nunca fazia, locou um carro e foi buscar Eliane em Itapetinga, onde ela estava trabalhando, para trazê-la a Itabuna. E mais, aceitou que Eliane, em outro gesto de bondade cega, o ajudasse a procurar uma casa para onde ele mudaria. Chegou a sair com familiares dela na véspera do crime, numa encenação do seu melhor papel de companheiro. Ali, é muito provável que já tinha em mente o que pretendia fazer.

E fez, para então desaparecer e, quem sabe, reaparecer em outro local, a espera de uma nova presa para devorar.

Fazer Justiça, através da prisão e do julgamento de Francisco, é o mínimo que se pode esperar.

Em nome da memória de Eliane, esse sim um anjo bom, de quem restou um exemplo de vida e uma imensa saudade que a impunidade faz doer ainda mais em todos os que com ela conviveram,

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