segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Futebol ao céu e à sombra dos cacaueiros
O escritor uruguaio Eduardo Galeano é conhecido pelo livro “As veias abertas da América Latina”, uma obra de antologia, admirada pela esquerda e defenestrada pela direita, que mostra como os países lutaram pela independência das potenciais européias da época, Portugal e Espanha, logo caíram na dependência das nações capitalistas, primeiro a Inglaterra e depois, para todo o sempre, os Estados Unidos.
Eduardo Galeano escreveu também uma obra bem menos conhecida, mas digna de seu talento literário: “Futebol ao Sol e à Sombra”, um delicioso passeio pela história do esporte mais popular do mundo.
Galeano sonhou em ser jogador de futebol, mas perna de pau irremediável (hoje isso nem seria empecilho, tantos são os pernas de pau maltratando a bola nos gramados), achou por bem homenagear o esporte através daquilo que sabe fazer esplendidamente.
“Futebol ao Céu a à Sombra”, além de passear pelas Copas do Mundo e pelos craques que elevaram o jogo à condição de arte, fala também da irracionalidade da paixão que move o torcedor, esse ser que transita do céu ao inferno em questão de segundos e em função de um gol ou uma jogada fortuita.
Uma paixão que cria anjos e demônios, que transforma anjos em demônios e demônios em anjos.
No futebol ao céu e à sombra dos cacaueiros, essa paixão foi explicitada nas últimas semanas, envolvendo os dois times do Sul do Estado que disputam o Campeonato Baiano.
Há dez dias, que passasse pela avenida do Cinqüentenário, veria no rosto dos torcedores do Itabuna aquele inconfundível semblante de felicidade, no olhares aquela expressão de que agora vai, de que o título baiano deste ano não escapa. Nada mais justo: o time azulino começou o Baianão com dois triunfos, um deles contra o poderoso Vitória.
E quem passasse pelo calçadão da Marques da Paranaguá veria no torcedor do Colo Colo a expressão do desanimo, a sensação de que o rebaixamento era uma ameaça real. Justo, também: o time começou o campeonato com duas derrotas, uma delas por 5x1 diante do Baianão.
O Itabuna estava nos céus, o Colo Colo no inferno.
Em menos de uma semana, o Itabuna sofreu duas derrotas, uma para arqui rival Colo Colo e uma enfiada de 3x0 do Bahia de Feira, em casa. Depois, perdeu pra o Conquista.
Nesse período, os torcedores do Colo Colo vislumbraram o retorno aos céus com a vitória sobre o Itabuna, mas desceram a escada das profundezas, após nova derrota, dessa vez para o Camaçari. Para completar, levou um sonoro 4x0 do Feirense.
O time com ganas de campeão virou, na visão do torcedor, um amontoado de mulambentos.
O time fadado a cair, confirmou o torcedor, só escapa por milagre.
Nada que uma ou duas vitórias não resolvam, porque nesse negócio de paixão, a razão passa bem longe dos estádios.
Para os técnicos Célio Costa, do Itabuna, Edu Lima, do Colo Colo, não haverá mais tempo.
Ambos perderam os empregos.
De bestiais, passaram a bestas, como dizem nossos irmãos portugueses.
Ao céu ou à sombra, a culpa é sempre do treinador.
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