quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Um revólver para a noiva
Maria da Silva (nome fictício) tinha todos os motivos do mundo para estar feliz. Na terça-feira de sol, por volta das 8 horas da manhã, seguia tranqüila para o trabalho, num hospital no centro de Itabuna.
Mas não era o trabalho, ainda que um trabalho que ajuda a salvar vidas, que fazia de Maria uma mulher feliz.
Era a concretização de um sonho: o casamento, marcado para o dia seguinte, com aquele que Maria considera sua cara-metade, o seu par perfeito num mundo de tantas uniões imperfeitas.
Nesse misto de expectativa e divagação, Maria caminhava pelas ruas que dão acesso ao hospital.
Caminhava , como caminha todos os dias, com a diferença de que esse na era um dia qualquer. Era a véspera do tão sonhado casamento.
Portanto, um dia diferente.
E acabou sendo mesmo um dia diferente.
Quando cruzava a esquina, já visualizando o prédio do hospital, Maria nem se deu conta que dois rapazes a bordo de uma motocicleta.
Poderia ser uma surpresa do noivo, mandando entregar flores para a amada. Ou algum colega de trabalho, a lhe entregar o presente de casamento de maneira inusitada. Ou mesmo alguém pedindo informação.
Nem flores, nem presentes, nem um prosaico pedido de informações.
Era um assalto. O clássico assalto que se tornou uma lamentável rotina em Itabuna: o piloto para a moto, o carona saca o revólver e anuncia o assalto.
Tudo muito rápido, em plena luz do dia e presenciado por outras pessoas, que impotentes nada podem fazer a não ser presenciar o desespero da vítima.
Com o revólver apontado ostensivamente para a cabeça, o risco real de levar um tiro dada a brutalidade de marginais para quem a vida (dos outros, bem entendido) não vale nada, Maria entregou a bolsa, com documentos, cartões de crédito, dinheiro e o telefone celular.
Quando os motobandidos saíram, com a tranqüilidade de quem faz um passeio matinal, Maria entrou em estado de choque. Foi socorrida pelos moradores, enquanto aguardou pela chegada dos colegas de trabalho.
Demorou para entender o que havia acontecido e deve demorar mais ainda para superar o trauma de uma violência absurda, que está presente do dia da dia da população, que passa por assaltos aos borbotões e termina nos assassinatos contados às centenas.
Nesta quarta-feira, quando subir para o altar e realizar o sonho de sua vida, Maria da Silva, nome fictício mas vítima de uma violência real, deve sentir um calafrio na espinha quando ouvir o padre dizer a frase “até que a morte os separe”.
Faltou pouco para que a morte os separasse na véspera da consumação da felicidade.
Que Maria, enfim, seja feliz, como merecem serem felizes todas as noivas e todas as pessoas do mundo.
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