sábado, 9 de janeiro de 2010
Calcinhas inglesas, cuecas brasileiras
Ian Stafford é prefeito de Preesall, uma insossa cidadezinha no interior da Inglaterra.
Ou melhor, era.
Ele renunciou ao cargo depois que foi flagrado cometendo uma irregularidade. A população não perdoou aquilo que considerou má conduta do administrador que elegeu para zelar pela cidade.
E lá se foi o mandato de Ian Stafford.
Seu crime?
Roubar calcinhas.
Por fetiche ou por algum, digamos, desvio freudiano, o fato é que as câmeras que tudo vigiam, flagraram Ian, primeiro numa loja, depois numa casa, surrupiando as calcinhas de suas recatadas cidadãs.
Pego com as calças, perdão, as calcinhas, na mão, Ian Stafford ficou sem o cargo, eventuais mordomias e voltou à sua antiga profissão de jardineiro, que lá na Inglaterra tem até certo status, mas nada que chegue perto da nobre função de prefeito.
E ainda teve que devolver as calcinhas às suas legítimas donas.
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José Roberto Arruda é governador da Brasília, a capital do Brasil, centro do poder político do país.
E tudo indica que continuará sendo
Ele não renunciou ao cargo mesmo flagrado pelas câmeras cometendo aquilo que por aqui se chamada popularmente de gatunagem.
Arruda foi filmado, com uma qualidade de imagem que não deixa margem para interpretações dúbias, recebendo maços de dinheiro de um assessor que operava um generoso esquema de propinas em seu governo.
Teve a preocupação de sair com o dinheiro sem ser notado e para isso recorreu a uma proverbial sacola, dessas que gente honesta usa para fazer compras e alguns políticos usam para levar dinheiro roubado dos cofres públicos.
Se Arruda recorreu às sacolas, seus auxiliares, igualmente flagrados recebendo propinas, recorreram às cuecas para esconder o dinheiro, prática que nos últimos anos tornou-se padrão no Brasil, elevando a produção de modelos tamanho GG.
Com notória cara de pau, Arruda disse que o dinheiro da sacola era para compra de panetones para distribuir aos pobres no Natal. Rendeu muitas piadas, mas punição que é bom, nada.
E, por fim, mantido no cargo, Arruda passou ainda mais óleo de peroba na cara de pau, ao dizer que perdoava seus detratores e que pedia perdão por seus erros.
Como se, em vez de surrupiar recursos oriundos Deus e os corruptos sabem lá de onde, tivesse atravessado um sinal vermelho, deixado de ajudar uma velhinha a atravessar a rua ou roubado (ops) o pirulito de uma criança.
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De Ian Stafford, pode se dizer que deu o azar de ter nascido num país onde roubar calcinhas é crime, seja ele um jardineiro ou um prefeito.
De José Roberto Arruda, pode se dizer que deu a sorte de ter nascido num país onde roubar é ou não é crime, a depender do status de quem rouba.
Pensando bem, nessa coisa de calcinhas e de cuecas, há que se inverter o espírito da coisa.
Sorte tem os ingleses e azar temos nós, brasileiros.
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