terça-feira, 15 de setembro de 2009

“Interesse Nacional”


Há quase cinco décadas, Cuba sofre um implacável embargo comercial imposto pelos Estados Unidos.

O embargo se torna ainda mais perverso quando e é extensivo a nações que mantém relações comerciais com os EUA, o que significa que o país que se atrever a fazer negócios com Cuba corre o risco de fechar mercado para os seus produtos na principal potência do planeta.

O embargo foi imposto em 1963 sob o pretexto de que ao dar à revolução que derrubou a ditadura de Fulgêncio Batista um caráter socialista Fidel Castro expropriou propriedades e empresas norte-americanas na ilha.

Na prática, foi uma resposta à ousadia dos cubanos em optar pelo sua autodeterminação, fazendo com que a ilha caribenha deixasse de ser um misto de bordel e cassino dos Estados Unidos, refugio de milionários e mafiosos.

Fracassadas as tentativas de derrubar Fidel Castro, malograda a invasão da Baia dos Porcos, optou-se pelo estrangulamento econômico de Cuba, prejudicando milhões de pessoas submetidas a todos os tipos de privações, incluindo o acesso a medicamentos e e tecnologia.

Enquanto existiu o Bloco Soviético, os impactos do bloqueio não foram tão danosos. Cuba negociava com a URSS, a Alemanha Oriental e a Tchecoslováquia, que hoje nem existem mais como nações. A URSS se esfarelou, as Alemanhas se unificaram e tchecos e eslovacos formaram seus próprios países.

A queda do muro de Berlim e a débâcle dos países socialistas empurrou Cuba a uma crise sem precedentes, fazendo com que Fidel adotasse o chamado “período especial”, com racionamento de energia e de alimentos.

Os cubanos resistiram, preferindo manter a cabeça erguida a voltar a ser um satélite dos EUA.

O fim da Guerra Fria tornou o embargo a Cuba sem sentido.

Que ameaça poderia oferecer uma ilhota de meros 15 milhões de habitantes, com dificuldades para oferecer até os serviços básicos, diante a um gigante econômico e militar?

Ameaça nenhuma, mas o embargo foi mantido.

Meio século de asfixia.

Um crime lesa-humanidade, a que o chamado mundo civilizado fecha os olhos.
A eleição de Barack Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, dono de uma trajetória de vida impar e espírito democrático, acendeu a esperança de que o embargo que já não faz mais sentido seria encerrado. Obama chegou a ensaiar medidas, ainda insípidas, para estreitar as relações entre os dois países.

Mera ilusão. Uma de Lei de Comércio com o Inimigo, que proíbe o comércio entre os Estados Unidos e qualquer nação considerada uma ameaça foi prorrogada por mais um ano por Obama.

A Lei é renovada anualmente e o presidente dos EUA acaba de renová-la até setembro de 2010.

“Interesse nacional” foi a justificativa para manter a lei que por tabela mantém o cruel e perverso embargo Cuba.

O gigante, numa desmedida e desproporcional exibição de força, insiste em esmagar o anão inofensivo e fragilizado.

E Barack Obama, que foi eleito sob a perspectiva da construção de um mundo menos tirano e desigual, que só pode virar realidade se houver cooperação dos EUA, demonstrou que em termos de política externa, vale mesmo é a lei da submissão.

E quem não se submeter, que pague o preço.

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