segunda-feira, 3 de agosto de 2009

AS VOVOZINHAS E OS LOBOS MAUS



Em Itabuna, Maria Anésia da Silva, de 68 anos, foi presa num bairro da periferia. Na casa dela, a polícia encontrou 30 pedras de crack embaladas para consumo e outras dez pedras grandes, que seriam quebradas e transformadas em pequenos pedaços.

Os policiais chegaram à casa da anciã após uma denuncia anônima. Maria Anésia foi presa em flagrante em companhia de Reginaldo Eduardo Paixão, que já cumpriu pena por assassinato e estava em liberdade condicional.

Sem ter como negar a posse das drogas, a mulher foi encaminhada ao Complexo Policial, onde permanece detida.

Não será a prisão de dona Maria que impedirá a escalada da venda de crack e outras drogas, diretamente associadas ao vertiginoso aumento dos índices de criminalidade em Itabuna.

Dona Maria sai de cena e entra em cana, mas é quase certo que será imediatamente substituída, dada a profusão de gente disposta a enfrentar os riscos desse mercado de lucro aparentemente fácil.

Em São Paulo, uma mulher de 58 anos foi presa na estação rodoviária, quando tentativa embarcar para o Rio de Janeiro. Questionada pela polícia sobre o teor da bagagem volumosa, ela respondeu que transportava livros.

Os policiais não acreditaram e quando abriram a mala da mulher encontraram um verdadeiro arsenal: quase duas mil balas para armas de grosso calibre, escopetas, metralhadoras e fuzis.

Descobriu-se então que a munição, suficiente para uma pequena guerra, seria destinada a traficantes do Rio de Janeiro, que travam uma grande guerra pelo controle do lucrativo mercado de drogas.

Como é praxe nesses casos, a mulher disse que foi contratada por alguém que ela não conhecia e que entregaria a bagagem a uma pessoa que ela igualmente desconhece. Iria receber uma quantia em dinheiro pelo serviço e missão cumprida.

Deu azar de ser pega pela polícia, não cumpriu a missão e ainda vai passar uma temporada na cadeia,

Com certeza será substituída por outra, mais outra e mais outra, nesse mercado de gente humana que parece ilimitado.

É difícil imaginar porque duas senhoras na faixa dos sessenta anos, que deveriam estar aproveitando os prazeres da aposentadoria e/ou curtindo os netos, estão militando no mundo do crime, envolvidas com tráfico de armas e de munições e de drogas.

Pensando bem, não é tão difícil assim.

A vovozinha vendedora de pedras de crack e a vovozinha que transporta munições para traficantes não estão nesse fogo cruzado por opção, mas por necessidade.

É a luta pela sobrevivência.

Numa adaptação mal feita (e infeliz) para a vida real do célebre conto de Chapeuzinho Vermelho, as vovozinhas de hoje são devoradas por lobos maus muito mais cruéis.

O lobo mau do abandono, o lobo mau da falta de oportunidades, o lobo mau da exclusão social.

Lobos maus a devorar crianças, adultos e velhinhas inocentes ou nem tanto, mas inegavelmente vítimas.

Histórias reais, sem o encanto dos contos infantis e nem o charme da graciosa (e bobinha) Chapeuzinho Vermelho para evitar o final infeliz.

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