sábado, 30 de maio de 2009

INCITATUS E O ERRO ADMINISTRATIVO


Quando se acha que nada mais surpreende naquilo que a política tem de pior, dada a sucessão de escândalos e os incontáveis exemplos de má utilização dos recursos públicos, ainda é possível se indignar, mesmo que diante de um ato, digamos, menor diante da dimensão monstruosa das estripulias cometidas pelos nossos bravos representantes (isso mesmo: eles nãos representam, foram eleitos pelo sufrágio universal!).

Na última quinta-feira, dia 28, o presidente do Senado, José Sarney, conseguiu provocar aquela sensação que mistura nojo e incredulidade.

Flagrado recebendo auxílio-moradia, uma das incontáveis mordomias concedidas a senadores e deputados, mesmo tendo uma mansão luxuosa em Brasília, Sarney apareceu diante das câmeras de televisão para dizer que não pediu para receber o “mimo” e que -acreditem- não percebeu que esses recursos estavam sendo depositados em sua conta. Isso depois de ter negado receber tal auxílio e ser desmentido pelos fatos.

Recebeu sim e agora anuncia que vai devolver o dinheiro ganho ilegalmente, cerca de 3 mil e 800 reais por mês. Pediu desculpas com uma cara de pau merecedora de hectolitros de óleo de peroba e ficou por isso mesmo.

Sempre fica por isso mesmo.

Inacreditável Sarney, esse primor de desprendimento, que não percebe nem o dinheiro que cai na sua conta. Ou, por outra leitura, 3 mil e 800 reais é pouca coisa para ele.

José Sarney representa o secular coronelismo político que é uma marca da política brasileira. Controla o Maranhão com mão de ferro e paralelamente ao domínio da máquina estatal, construiu um patrimônio invejável.

Ícone da ditadura militar, o acaso deu-lhe a presidência da República após a redemocratização do Brasil. Foi um presidente de triste memória, virou senador pelo insignificante Amapá e, no melhor estilo PT de escolher aliados, quando parecia viver o ocaso político, ganhou a presidência do Senado no início do ano.

Sua posse foi como a abertura de uma porteira, ou da tampa de uma privada. Não passa uma semana sem que algo de errado brote das entranhas do Senado. Embora, é sempre bom repetir, sempre fica por isso mesmo.

Acabou o espetáculo de caradurismo?

Ainda não. Nunca acaba.

Flagrado Sarney e, justiça seja feita ele não está sozinho nisso, flagrados outros senadores recebendo auxílio-moradia sem precisar, veio a explicação do próprio Senado: tudo não passou de um erro administrativo.

Isso mesmo: um reles erro administrativo.

Seria o caso de rolar de rir. Mas, decididamente, não é esse o caso.

Não é mesmo.

___________________

Reza a história que no ano 40 d.C., o imperador romano Caio César, o Calígula, nomeou seu cavalo, Incitatus, para o Senado Romano. Um Incitatus no Senado Brasileiro de hoje causaria menos estupor.
E sairia bem mais barato.

Nenhum comentário: