quinta-feira, 2 de abril de 2009

Ezequias, um mártir da irresponsabilidade

Ezequias Oliveira Santos viveu seus primeiros -e únicos- cinco anos de vida num lugar de nome sonoro, chamado Jóia do Almada, bairro da periferia de Coaraci, cidade do Sul da Bahia que conheceu seu apogeu quando um certo fruto valia ouro e que hoje enfrenta a decadência explícita, arrastada no vendaval que se seguiu a uma doença de nome quase obsceno chamada vassoura-de-bruxa.

A lei das probabilidades indica que Ezequias iria crescer e seguir sua vidinha sem sobressaltos na cidade em que nasceu. Uma daquelas vidas que passam ao largo de qualquer registro para a posteridade, mas nem por isso são menos dignas.

Com um pouco de sorte, quem sabe Ezequias poderia romper os limites de Coaraci, e alçar vôos mais altos.

Itabuna, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo. Outros países.

Ezequias poderia ser um professor, um médico, um advogado, um engenheiro, um arquiteto, um profissional liberal, um empresário.

Um político diferente, desses que se preocupam mais com o bem estar do povo do que rapinar os cofres públicos em benefício próprio. Tão raros que a gente precisa fazer um esforço sobre-humano para localizá-los.

Ezequias poderia dar um drible espetacular no destino e se tornar jogador de futebol, craque da Seleção, decidir uma Copa do Mundo de 2026 para o Brasil.

Ezequias, fadado pela ordem natural das coisas a ser apenas um sujeito comum, mas que poderia ser tanta coisa, não poderá ser mais nada, pelo simples fato de que é apenas uma criança enterrada num cemitério modesto, enquanto seus pais, familiares e amigos choram sua morte recente.

Ezequias é mais uma vítima da dengue, doença que assola o Sul da Bahia e que em sua forma hemorrágica já fez mais de duas dezenas de vítimas fatais.

Não, Ezequias não é vítima somente da dengue hemorrágica, o que por si só é grave, visto que esse tipo de doença ocorre basicamente porque os recursos na prevenção não são utilizados corretamente. Ou, para ser mais explícitos, são desviados.

Ezequias é também vítima de um tipo de irresponsabilidade que quase nunca é punida, um misto de omissão e descaso.

O caso de Ezequias beira o inacreditável, não fosse o setor de saúde pública pródigo em produzir coisas inacreditáveis.

Por três vezes ele foi levado por seus pais ao Hospital Geral de Coaraci. Por três vezes, os médicos diagnosticaram (?) amigdalite. Mandaram que a criança fosse levada para casa e medicada com remédio para inflamação na garganta.

Não era amigdalite.

Era dengue hemorrágica.

Na quarta e derradeira vez que foi levado ao hospital, não havia mais o que fazer.

Ezequias Oliveira Santos, 5 anos de idade, morreu sem poder descobrir o que havia além de Jóia do Almada.

Seu horizonte (ou a completa ausência dele) é um buraco no chão, um mergulho no desconhecido, que para alguns é o renascer para uma nova vida e para outros é o fim.

Seu horizonte é horizonte nenhum.

Mais do que estatística, Ezequias é um mártir.

Não propriamente um mártir da dengue, mas necessariamente um mártir da irresponsabilidade.

Ninguém será punido pela morte de Ezequias. Ninguém será punido por tantas e tantas mortes que poderiam ser evitadas.

Um comentário:

Roberto Luiz Lima disse...

Saudações,
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