quinta-feira, 9 de outubro de 2008

UM PAULISTA-GRAPIUNA NA ILHA DE FIDEL

Cuba, do mítico Che Guevara e do velho comandante en jef Fidel Castro, era um sonho de juventude em Osasco, cidade operária da Grande São Paulo. Sonho impossível, naqueles tempos duros, em que pão com mortadela era filé com fritas e a calça velha azul e desbotada não era apenas um slogan da moda. Era a única que eu tinha mesmo.
Tempos duros, mas também inesquecíveis, do trabalho em pequenos jornais e rádios, de viagens sem rumo pelo Brasil, e incursões pela Bolívia, Paraguai e Peru, na Machu Pichu que era a Meca dos mochileiros e ´fumaceiros´ de todo o planeta.
Cuba só virou realidade em 1995, por obra e graça de Manuel Leal, o meu velho capo do jornal A Região, eu já labutando em Itabuna, na Bahia. Quando soube que um daqueles vôos de solidariedade, tão comuns na época, faria escala em Salvador, não tive dúvidas. Propus a Leal realizar uma reportagem especial sobre Cuba. Não existia lógica para um jornal regional fazer esse tipo de pauta, mais para a Folha, Globo, Veja, Estadão e quetais, mas o fato é que Leal topou na hora.
O jornal bancou a viagem (800 dólares incluindo passagem aérea, hotel e meia pensão, uma barbada numa época em que com 85 centavos de real se comprava um 1 dólar) e fiquei com as despesas extras.
E lá fui eu desbravar Cuba e fazer a primeira cobertura internacional da gloriosa história de A Região, onde produzi uma série de matérias, republicadas pelo Diário de Osasco (afinal meus conterrâneos paulistas tinham que saber que vim, vi e venci) e que resgato para esse blog.
Apenas a título de contextualização, vale lembrar que Cuba vivia o ápice do chamado ´período especial`, com a perda dos recursos injetados pela recém desintegrada União Soviética. Comida racionada, roupa racionada, energia racionada. Mesmo assim, descobri um país fascinante, um povo fascinante. E descobri a paixão pelos charutos que se mantém viva até hoje, apesar dos meus cada vez mais freqüentes e exasperantes ataques de asma.
Antes de passar às reportagens, um adendo: se eu me apresentasse em Cuba como jornalista, não daria dois passos sem ser seguido por zelosos policiais. Na ficha preenchida no aeroporto José Marti assinalei “profissão: bancário”. E pude circular a vontade, com a máquina fotográfica que guardo até hoje, herança do meu inesquecível Manuel Leal.
Como já foi dito neste mesmo blog, por uma boa reportagem, eu chuto a canela da ética. E por uma boa caixa de charutos cubanos, vendo a mãe. E não entrego!

PS- A exemplo do que foi feito à época (1995) em A Região, publicarei as reportagens semanalmente. Pouparei os parcos leitores desse blog de um quase livro sobre A Ilha. Nisso, um tal de Fernando Moraes dá de um milhão a zero em mim.

Nenhum comentário: