terça-feira, 29 de julho de 2008

Uma rua chamada Medo

Há pouco menos de cinco anos, a rua Henrique Alves era um exemplo de um Pontalzinho boêmio, com uma vida noturna efervescente, e ao mesmo tempo com ares de cidade interiorana, onde os vizinhos colocavam cadeiras na calçada para jogar conversa fora, as crianças brincavam livremente e casais de namorados davam seus amassos discretos ou nem tanto na porta de casa.
O chamado bairro ideal, com tudo perto. Farmácia, padaria, mercado, açougue e uma profusão de bares, estrelado pelo Katiquero, com sua cerveja sempre gelada e caranguejos que merecem ser degustados de joelhos.
Essa rua e esse bairro, infelizmente não existem mais, embora a padaria, a farmácia, o mercado, o açougue e o Katiquero continuem nos mesmos lugares.
A rua Henrique Alves, que de tão pacata às vezes parecia modorrenta, tornou-se a síntese de uma violência que se estende a todas as ruas e a todos os bairros dessa cidade sitiada pela bandidagem.
Não passa um dia sem que haja um assalto, não passa uma semana sem que haja um arrombamento de casa ou estabelecimento comercial. E vieram também os assassinatos. O ultimo deles vitimou um engenheiro de 48 anos, morto a tiros durante uma tentativa de assalto.
Tornou-se banal, em qualquer hora do dia, alguém gritar que teve seu telefone celular roubado. Os marginais, sozinhos ou em duplas, agem livremente. O simples barulho de uma moto provoca calafrios, tantos são os motobandidos cometendo crimes com a quase certeza da impunidade.
O que era paz, virou pavor. É raro encontrar alguém na rua a partir das 20 horas. Pais só se tranqüilizam quando os filhos retornam para casa, como se chegar vivo do trabalho, da escola ou do lazer fosse uma espécie de prêmio de loteria.
As residências viraram verdadeiras fortalezas, com grades, correntes e sistemas de vigilância eletrônica. Uma falsa sensação de segurança, já que ninguém passa a vida toda trancado. E também porque nem esse aparato evita a ação dos bandidos, cada vez mais ousados e destemidos.
Beira o inacreditável, mas há cerca de dois meses, um marginal escalou três andares para roubar roupas que estavam secando na varanda de uma casa. As grades que deveriam servir de proteção, serviram como escada para o ladrão.
Parte dessa tranqüilidade perdida deve-se à expansão do consumo de crack, essa droga devastadora que leva empurra os viciados ao mundo do crime.
Roupas, calçados, celulares, pulseiras e anéis se transformam em moeda de troca na hora de adquirir as pedras que eles consomem sem parar.
E o bairro, que já foi uma espécie de paraíso na terra para quem quer conciliar as facilidades da cidade grande com a tranqüilidade de uma pequena cidade, se transformou num inferno, onde as pessoas não estão seguras nem dentro de casa.

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Talvez com saudade de um tempo que não volta mais, uma moradora colou a cadeira na calçada e ficou observando o movimento. O telefone tocou e ela entrou em casa para atender.
Quando retornou minutos depois, haviam roubado a cadeira...

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