terça-feira, 26 de abril de 2011

Paixão e morte, sem ressurreição


A sexta-feira era santa (e houve um tempo em que na Sexta Feira Santa, aí com letras maiúsculas, se podia ouvir o canto dos pássaros, tamanho o silêncio reinante), mas a violência é infernal nessa escalada de mortes em série que assola Itabuna.

E por ser infernal, no dia em que os cristãos celebravam a morte do homem que mudou o mundo em meros 33 anos de vida, na certeza de sua ressurreição, mais dois jovens tombaram nessa guerra cotidiana que tem o tráfico de drogas como causa e efeito.

Rafael Rodrigues Santos, de 21 anos, e Danilo Batista dos Santos, de 18 anos, eram -perdão pela heresia- apóstolos do crime. Rafael comandava o tráfico de drogas no bairro de Zizo, periferia de Itabuna, e Danilo envolveu-se numa disputa de gangues na também periférica Nova Ferradas e tentava se livrar, sem sucesso, do vício em crack.

Rafael e Danilo foram assassinados com uma saraivada de tiros. Fuzilamentos sumários.

Nem deve ter dado tempo de, feito o bom ladrão daquela sexta-feira de mais de dois mil anos atrás, arrepender-se dos pecados e conseguir uma vaga num hipotético reino dos céus.

A droga, mais uma vez, manchou de sangue uma cidade que está prostrada de joelhos diante da violência.

Era santa a sexta feira, mas os demônios continuavam à solta, cravando mais duas cruzes em covas rasas, com pouco choro e quase nenhuma Páscoa.

E era de ressurreição o domingo de Páscoa, em que muita gente associa mais ao consumo de ovos de chocolate do que à ressurreição de um Cristo tão desvirtuado em sua mensagem original de esperança, solidariedade e amor ao próximo, valores que, postos em prática, evitariam a banalização da violência.

Mas, não eram de chocolate as balas que mataram um traficante de drogas conhecido como Galego, assassinado num bairro chamado Jardim Grapiuna, mas que tem tão pouco do que se convencionou a entender por jardim, e as pessoas só chamam de Favela do Bode.

Com os três mortos entre sexta-feira da paixão e o domingo da páscoa, Itabuna chega a marca de 58 homicídios apenas em 2010.

E nem se pode malhar o desafortunado Judas, que virou sinônimo de traição, mas que apenas cumpriu sua missão de perpetrar o que estava escrito desde o início dos tempos.

Por Deus, chega!!!

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