segunda-feira, 28 de março de 2011

Indiana Jones e o marco perdido


Diante do impasse criado em torno do marco divisório que define os limites entre Ilhéus e Itabuna, esquecido em meio à mata durante quase um século, autoridades dos dois municípios decidiram, em comum acordo, convocar Indiana Jones para a difícil missão.

Afinal, a pendenga, gerada por conta da inauguração de dois grandes hipermercados numa área que fica colada a Itabuna, mas que originariamente está dentro dos limites de Ilhéus, periga descambar para uma guerra que já estava começando a superar a fase das palavras duras de lado a lado para resultar numa saraivada de jacas e caranguejos, ressuscitando uma rivalidade histórica, simbolizada pelo futebol.

Isso, claro, nos tempos em que os times profissionais de Itabuna e Ilhéus jogavam futebol.

Indiana Jones, capaz de desvendar os mais incríveis mistérios da arqueologia, era a pessoa ideal para colocar fim a uma questão que ameaçava se arrastar por meses ou até anos.

Tudo bem que o tal Jones anda meio entrevado, fora de forma, semi-aposentado, mas o que é um marco divisório para quem já encontrou arcas perdidas e monumentos pré-históricos nos confins do planeta?

Acerto fechado, nenhum problema quanto ao local do desembarque. Foi no aeroporto de Ilhéus mesmo, embora alguns itabunenses achassem que com um pouco de boa vontade dava para pousar no aeroporto local, desde que os urubus fossem devidamente convencidos a dar uma pausa no lazer diário.

Hospedagem?

-Claro que ele vai ficar no hotel em que até o presidente Lula se hospedou!, exultaram os ilheenses.
-Nada disso, ele vai ficar no hotel com visão para o rio mais lindo do mundo e ainda por cima o dono é medico, pra qualquer eventualidade!, rechaçaram os itabunenses.

E, pra evitar que começasse com uma nova briga, lá foi o pobre Indiana Jones aboletar-se numa pousada na beira de um lago em Itajuípe.

A estratégia não impediu que, durante a noite e- felizmente- em horários diferentes, Indiana fosse visitado pelos prefeitos de Itabuna e Ilhéus, acompanhados de um discreto assessor.

-Diga que o marco beneficia Itabuna que eu te dou uma Bolsa Alimentação, carteira de motorista grátis e um terreno para você fazer sua rocinha; disse o alcaide ao bravo explorador.
-Prefeito, isso o senhor já prometeu pra 50 mil pessoas na eleição passada, acha que o Indiana vai cair nessa?, lembrou o assessor.
-Então dou o nome dele pra nossa ponte espalhada...
-É espraiada, prefeito, espraiada...
-Olha que último que prometeu praia em Itabuna se ferrou...

Indiana, coitado, não entendeu nada e entendeu menos ainda quando chegou o prefeito de Ilhéus.
Esse mais modesto, falou que se elegeu graças ao “arroz com feijão”, mas que se Indiana confirmasse os limites atuais, iria melhorar o cardápio e convidá-lo para o regabofe.
-Prefeito, isso o senhor prometeu ao povo de Ilhéus. E, cá pra nós, o pessoal tá é a pão e água. Quando chove, então, aí é que é água mesmo.
-Então prometo entrada grátis no Estádio Mario Pessoa, para ele ver os jogos do Colo Colo...
´Ô prefeito, com uma proposta dessas, parece que o senhor está ao lado dos itabunenses...

Quando finalmente pensou que iria dormir, foi acordado por um grupo de ambientalistas:

-Não ache marco nenhum, vamos transformar Itabuna e Ilhéus numa grande floresta, abaixo o Porto Sul, abaixo a Ferrovia Oeste-Leste, abaixo os supermercados, viva a Natura, viva a Rede Globo!!!

Indiana Jones falou algo como “fuqui iorselfi” para a turma e finalmente descansou.


Haveria uma longa batalha pela frente.

Longa batalha pela frente? Não para Indiana Jones!

Devidamente escudado pelos prefeitos, secretários, assessores e um batalhão de fotógrafos e cinegrafistas, Indiana percorreu um pequeno trecho de mata, olhou alguns blocos de cimento com inscrições numa língua que ele não entendia, atirou num cipó pensando que era uma cobra, se atracou com uma garça pensando que era um pterossauro, afundou numa poça de esgoto no Rio Cachoeira pensando que estava sendo tragado para as profundezas da terra e quase avançou sobre um grupo de pescadores, confundindo-os com índios selvagens.

(Tá bom, é exagero, mas Indiana Jones sem cenas de ação não é Indiana Jones)

Em menos de duas horas, fez-se a luz. Melhor dizendo, acabou-se a mata e o grupo se viu diante de um clarão.

-No problem, no problem. Mim achou o solução da pobrema, sou retado mesmo, porra!, disse Indiana Jones, misturando inglês, português e baianês.

E ainda vez troça com o grupo:

-Vocês devem ser cegos. Me trazer dos esteites para achar uma coisa dessa tamanhão, no beira da estrada.

Gran finale:

-Vocês queriam achar o Makro, ai está o Makro... eu vai aproveitar o dinheiro que ganhei pra fazer uns comprinhas lá...

Além de fora de forma, o velho Indiana também anda meio surdo. Pediram para ele encontrar o marco e ele entendeu Makro.

Alguém do quinto escalão, não se sabe se de Ilhéus ou Itabuna, ainda sugeriu a contratação do Super Homem e da Mulher Maravilha. “Vai que por acaso ele ´fogem´ bem em cima do marco de verdade”, disse, talvez falando sério ou rindo daquela situação por si só já por demais ridícula.

Quase foi atacadão pela turba ensandecida.

Nesses tempos de marketing até na ficção, o concorrente não poderia ficar fora dessa história.

Que ainda está longe de terminar...

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