sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

DESCANSE EM PAZ, JORGE AMADO


Se um dos muitos romancistas de talento, que em tempos outros brotavam no Sul da Bahia como o cacau brotava generoso do chão, escrevesse um romance (drama? comédia?) sobre uma câmara municipal de uma grande cidade que primeiro elegeu sua mesa diretora com dois anos de antecedência, depois ´deselegeu´ pelos mesmos que a haviam eleito e elegeu outra mesmo com o pleito suspenso; tudo isso às voltas com um escândalo de desvio de recursos que ultrapassa a casa dos milhões de reais, dir-se-ia que a ficção ultrapassou todos os limites da imaginação.

Deixemos os romancistas com seus romances.

Não se trata aqui de ficção, mas de algo que está acontecendo em Itabuna, que ombreia com Ilhéus na condição de principal cidade do Sul da Bahia.

A Câmara Municipal, em tese a casa que representa os interesses da população e que tem o papel de fiscalizar e colaborar com o Executivo na elaboração de projetos que beneficiem a comunidade, está envolvida num imbróglio que, qualquer que seja o resultado, provocará uma fissura irreversível.

Tudo começou quando Roberto de Souza foi eleito presidente do Legislativo a partir de 2001 já em 2009. Na terra do Carnaval Antecipado, inovou-se com a Eleição Antecipada.

Nesse, digamos, interlúdio, surgiram as denuncias de malversação de recursos do Legislativo. Roberto de Souza, o ´futuro presidente´, trombou de frente com o atual, Clóvis Loiola, apontado por uma Comissão Especial de Inquérito como o principal beneficiário dos desvios.

A reação de Loiola para retaliar Roberto: anular a eleição antecipada e fazer outra eleição, com a chancela do Poder Executivo, que transformou o Legislativo numa espécie de quintal.

Surgiu, então, o nome de Ruy Machado, apoiado por vereadores do PT, PC do B e PSB, além do aval de parte da bancada do prefeito. Com maioria folgada, a eleição de Ruy Machado tornou-se favas contadas.

Eis que, num lance de puro nonsense, Roberto de Souza aliou-se a Clóvis Loiola, na tentativa de melar a nova eleição, já previamente marcada.

O roteiro incluiu a desconvocação da nova eleição, com direito a nota pública nos jornais, mas a chapa de Ruy Machado simplesmente ignorou a decisão, por considerá-la despropositada.

Com as portas do plenário trancadas a mando de Loiola, recorreu-se à providencial ajuda de um chaveiro (arrombamento seria demais!), para que a eleição fosse realizada relativamente dentro dos trâmites regimentais.

E Ruy Machado, como se esperava, é o novo presidente da Câmara de Itabuna.

É mesmo?

Pois Roberto de Souza apregoa que a eleição de Ruy não tem valor legal, deu queixa na delegacia acusando seus nobres colegas de arrombarem o plenário, e garante que será ele o empossado no dia 1º. de janeiro de 2011, pelas mãos do agora amigo de infância Clovis Loiola.

Aguardemos os próximos capítulos.

E descanse em paz, Jorge Amado!

Definitivamente, não precisamos de você aqui.

Um comentário:

Neto Miná disse...

Fico muito feliz quando encontro textos super inteligentes, críticos e sensatos de pessoas de talento. É a primeira vez que acesso seu Blog e gostei muito do seu trabalho! Parabéns! Análises ferrenhas com o embasamento necessário para sustentar suas críticas!