sexta-feira, 23 de julho de 2010

O bispo, o fogo do inferno e uma tal de Medicilândia


Vejo no Jornal Nacional uma reportagem mostrando que policiais do Corpo de Bombeiros desviaram donativos destinados às vítimas das enchentes em Alagoas e Pernambuco, uma tragédia de proporções bíblicas. É preciso ser desumano para surrupiar coisas que serviriam de alento a quem perdeu tudo e que só sobrevive da solidariedade alheia.

O desvio de donativos me remete a um fato ocorrido no início da década de 90. Santa Catarina enfrentava uma enchente apocalíptica e o Vale do Itajaí foi arrasado pela fúria das águas. A Rede Manchete, da qual a TV Cabrália era afiliada, fez uma campanha para arrecadar alimentos, remédios, roupas e cobertores para os flagelados.

A Cabrália, da qual era diretor de jornalismo, entrou na campanha e em poucos dias arrecadou toneladas de donativos, que seriam enviados a Santa Catarina. Uma noite, por volta das 20 horas, entro no estúdio abarrotado de generosidade, onde mal havia espaço para as câmeras e a mesa dos apresentadores. De repente, veio o estalo.

Naquele mesmo ano, moradores da Bananeira, do Gogó da Ema e de Nova Ferradas estavam sofrendo com as cheias do Rio Cachoeira. Nada que se comparasse à tragédia de Santa Catarina e nem de longe se equipare ao atual drama dos nossos irmãos nordestinos, mas centenas de famílias perderam seus parcos pertences e muitas estavam desabrigadas.

O raciocínio foi óbvio. Se a gente pedisse donativos pras vítimas das enchentes em Itabuna, é provável que o retorno seria quase nenhum. Já para os catarinenses, em função da comoção nacional que se criou, mal havia espaço para armazenar tantas doações. Com a cumplicidade do então bispo diocesano de Itabuna, o saudoso Dom Paulo Lopes de Faria, uma parte dos donativos foi entregue para uma igreja e dali seguiu para os flagelados das enchentes em Itabuna, que deles fizeram ótimo proveito.

A outra parte, é bom que se diga, foi entregue aos catarinenses, que sem saber e por águas tortas, haviam proporcionado um gesto de solidariedade aos itabunenses, irmãos de pátria e de infortúnio.

Dom Paulo, nosso querido bispo, depois sagrado arcebispo, por esse e por outros gestos de uma grandeza divina, hoje com certeza habita um local idêntico ao que se convencionou chamar de Reino dos Céus.
Já esses bombeiros que envergonham uma profissão tão digna e todos aqueles insensíveis que desviam donativos que em alguns casos podem salvar vidas, merecem mesmo é arder no fogo do inferno.

-0-0-0-0-0

Aliás, o noticiário da semana foi farto. Além da novela do goleiro suspeito de mandar resolver um problema com a amante (e que seus amigos parecem ter resolvido da maneira mais radical e monstruosa possível) e do advogado suspeito de matar ex-namorada e jogar o corpo numa represa porque ela não queria retomar o romance; tivemos ainda a história do filho adotivo que mandou matar o pai, dono de uma rede de restaurantes, para receber uma bolada de 8 milhões de reais, e numa seqüência macabra, mandou matar outras seis pessoas, do pistoleiro ao advogado e ao pai de santo a quem ele confessou o crime.

Do jeito que esse mundo anda, vai ter liquidação por excesso de vagas no céu. E reserva com antecedência para uma vaga no inferno.

-0-0-0-


Pelo Jornal Nacional fica se sabendo também que o município que mais produz cacau no Brasil é Medicilândia.

Antes que alguém corra ao mapa do Sul da Bahia para descobrir onde fica essa tal de Medicilândia, aconselha-se recorrer ao mapa do Pará.

Sim, Medicilândia, nome que é uma homenagem ao ditador Emílio Garrastarazu Médici, fica lá nos confins do Pará.

Pode pará, pode pará...

Nenhum comentário: