quarta-feira, 21 de julho de 2010

CONSERTOS PARA A JUVENTUDE


O Festival Anual da Canção Estudantil é, ao lado do programa Todos pela Alfabetização (o TOPA), um dos grandes projetos do Governo da Bahia na área educacional.

O FACE, que envolve toda a rede pública de ensino na Bahia, é uma daquelas raras oportunidades de integração escola-comunidade e, mais do que isso, um espaço privilegiado para que os jovens possam passar sua mensagem através da música.

A despeito da qualidade musical revelada nas composições, é de mensagem e não de música que vai se tratar aqui.

E a mensagem deixada pelos estudantes é clara.

Tome-se, como exemplo, a etapa regional do FACE, realizada neste meio de semana em Itabuna, com a participação de quinze escolas dos municípios sulbaianos abrangidos pela Direc 7.

Das 15 canções classificadas, escolhidas entre mais de 300 composições nas etapas classificatórias em cada escola, cinco falam de violência/drogas, três de agressões à natureza, três de amor, e as outras quatro falam de corrupção, belezas da Bahia e de louvor a Deus.

Violência/drogas e natureza, além do amor (essa descoberta típica da idade, embalada em sonhos edulcorados e paixões eternas), estão portanto na ordem do dia.

A violência porque faz parte do dia a dia desses jovens, que não raro moram em bairros extremamente carentes e violentos, onde o tráfico de drogas impõe a lei e o terror e que a morte está sempre à espreita.

Para esses jovens, a violência está longe de ser algo abstrato, subjetivo. É uma coisa real, objetiva, com a qual eles convivem inclusive no próprio ambiente escolar. E para a qual eles querem uma solução, que passa por uma educação de qualidade, acesso ao esporte e ao emprego e programas de inclusão social.

A preocupação com a natureza, mostra que eles estão antenados com o pensamento mundial (que infelizmente fica apenas na boa intenção), de que é preciso conter a devastação do meio ambiente para salvar o planeta da destruição.

Uma destruição que também é sentida na rotina dos estudantes, com a redução das áreas verdes, a poluição dos rios, as enchentes provocadas pela falta de planejamento urbano. Não por acaso, a canção que ficou em segundo lugar contém frases como “a seca aumentando/e também a poluição/da água e do ar/desmatamento das florestas/animais e extinção” e o refrão mobilizador “depende de você/depende de mim/vamos preservar/vamos reagir”.

Com muita propriedade, a música vencedora, um libelo contra a expansão avassaladora do crack, fala de “crianças que são vistas/nas esquinas com o cachimbo na mão/enquanto políticos/são flagrados em atitude de corrupção/porém também somos culpados/por admitir essa situação”.

A canção, de Ailton Menezes, um jovem de Ubaitaba que refez sua história de vida através da escola, traça um paralelo entre a mobilização nacional em torno da seleção e a passividade diante de questões relevantes. O refrão brada: “por isso vamos jogar como uma seleção/unidos para fazer valer a nação/marcar um golaço estilo Robinho/salvando as crianças do nosso Brasil”.

Ouvir a juventude e torná-la mais participativa é certamente uma ferramenta eficiente para consertar esse mundo tão maltratado e tão desigual, pra que talvez um dia os nossos jovens e as canções possam viver/falar mais do amor do que de violência.

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