quarta-feira, 2 de junho de 2010

Viajando com o perigo


No imaginário da juventude, o automóvel sempre esteve associado à liberdade e também a uma certa dose de rebeldia.

Ao completar 18 anos, quase todo jovem sonha em tirar a carteira de habilitação e passar a dirigir. O carro é quase como um rito de passagem da adolescência para uma nova etapa de vida.

Pena que, além da pretensa liberdade, o carro acabe associado a uma tragédia que não é exclusiva do Brasil, mas que aqui ganha proporções assustadoras: os acidentes de trânsito, com uma legião de mortos e feridos.
O Brasil tem cerca de 400 mil vítimas de acidentes de trânsito por ano, com quase 40 mil mortes. Nem países em permanente estado de guerra, como o Iraque e o Afeganistão, produzem números semelhantes.

Na Bahia, foram cerca de cinco mil acidentes nos últimos doze meses com um mais de 400 mortos. Esses números referem-se apenas às rodovias federais, não inclui as estradas estaduais e as vias urbanas, onde a situação não é diferente.

Onde é que o jovem entra nessa história de terror?

Entra como protagonista, ator principal.

Na Bahia, jovens entre 18 e 29 anos representam 25% do total das carteiras de habilitação, mas respondem 45% dos mortos e feridos em acidentes. É o maior percentual entre todas as faixas etárias.

O motorista brasileiro é um imprudente por excelência. Não respeita as leis de trânsito, abusa da velocidade e ainda não percebeu que bebida e direção, definitivamente, não combinam. Esses fatores são responsáveis por 95% dos acidentes nas estradas brasileiras. O péssimo estado de conservação das rodovias, apontado como vilão, responde por meros 5% das ocorrências.

A esses defeitos, o jovem acrescenta mais um: o excesso de confiança, típico da idade, em que o vigor físico atinge o auge e transgredir faz parte do estilo de vida. Uma regra que, na virada dos anos 60/70 do século passado, Caetano Veloso sintetizou no “É Proibido Proibir”. Como se tudo fosse possível e permitido.

É o excesso de confiança que leva às ultrapassagens que beiram a insanidade, ao “pé embaixo” no acelerador. O carro, que deveria ser um acessório importante de locomoção e, até mesmo, um símbolo de liberdade, acaba se transformando numa arma muitas vezes letal.

Todos os anos, milhares de jovens tem suas vidas ceifadas ou irremediavelmente comprometidas pelos acidentes. Pais, familiares e amigos choram a dor de perdas prematuras e inesperadas.

Apesar de números tão assustadores, o festival de imprudência continua e o número de mortos e feridos não para de aumentar, numa estatística macabra que desafia o bom senso.

A vida é bela demais para, em nome de uma rebeldia tola e inconseqüente, terminar na próxima curva, no próximo semáforo vermelho, na próxima ultrapassagem arriscada, no próximo “pega”...

Quem arrisca a vida dessa maneira só não é um completo otário porque é mais do que isso: um irresponsável completo que ainda expõe a vida de pessoas inocentes.

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