sábado, 13 de março de 2010

Foi bom, mas foi ruim



Quem assistiu ao Jornal Nacional da última quinta-feira deve ter ficado sem entender o contorcionismo para tentar transformar uma notícia evidentemente boa, a retração do PIB brasileiro em apenas 0,21% em 2009, ocorrido em meio a maior crise do capitalismo em quase um século, em algo não tão bom assim.

Em meio a números expressivos no último trimestre de 2009, com a recuperação da indústria e da agricultura e a expansão do comércio, serviços e construção civil, foi feita exposição de percentuais negativos propositadamente fora de contexto. A um economista respeitado que previu crescimento robusto em 2010, contrapôs-se o inevitável senador José Agripino Maia, do DEM, que obviamente viu o apocalipse na economia brasileira.

Diante de números que apontam que o Brasil sentiu menos os impactos da crise do que potências econômicas como os EUA, Alemanha, Itália, Japão e França, que tiveram quedas expressivas, o JN forçou uma comparação quase hilária com republiquetas como Panamá e Honduras, onde a produção de alguns cachos de bananas a mais já provoca a elevação do PIB.

O malabarismo no principal telejornal da principal emissora de televisão do País, que literalmente brigou com a notícia, está longe de ser algo isolado, um deslize de um editor desatento.

Passado o “foi bom, mas foi ruim” do PIB, o Jornal Nacional daquele dia mostrou primeiro as críticas a Lula por conta de sua posição passiva diante da existência de presos políticos em Cuba e depois, num tom mais acima, o novo escândalo gerado pela revista Veja e prontamente repercutido pela TV Globo e os jornais O Globo, Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo, sobre o suposto desvio de recursos de uma cooperativa de crédito para campanhas eleitorais do PT.

Em meio às denuncias de desvio de recursos, noticiou-se que o presidente Lula comprou um triplex de cobertura à beira mar.

Epa, um ex-metalúrgico comprando triplex de cobertura na praia? Aí tem!

Aí tem e aí vai ter.

Os grandes veículos de comunicação vêm perdendo leitores e telespectadores, perdendo receita e influência sobre a chamada opinião pública.
A distribuição do bolo publicitário do Governo Federal, antes restrita às grandes corporações da mídia, possibilitou a expansão dos sites alternativos da internet e o fortalecimento dos jornais e emissoras de rádio das capitais fora do eixo Rio-São Paulo e das cidades do interior do país.

A mídia está menos hegemônica, menos concentrada. Não se transformam distorções em fatos consumados como ocorria uma década atrás.
Isso é bom para a democracia, mas péssimo para quem controlava a informações como um poder paralelo.

Vai daí que, diante daquilo que os barões da mídia passaram se tratar de ameaça concreta, a manutenção desse modelo por mais quatro anos, com a vitória de Dilma Roussef na eleição presidencial, eles resolveram, mandar às favas o prurido e ir ao ataque.

Alguém acredita que foi só coincidência o surgimento nova denuncia envolvendo o PT, num caso que vem sendo apurado há pelo menos dois anos pelo Ministério Público, ocorrer uma semana após uma pesquisa DataFolha apontar Dilma Roussef em situação de empate técnico com o tucano José Serra?

O que se tem visto são os primeiros foguetes de uma artilharia pesada, mas cuja capacidade de fazer efeito pode se equiparar a de um traque, a exemplo do que ocorreu na campanha presidencial de 2006, com o super dimensionamento de um dossiê idiota e fotos de uma montanha de dinheiro montadas para dar a impressão de que era uma cordilheira de dinheiro.

O problema de entrar dessa maneira numa ainda pré-campanha eleitoral para ajudar na vitória do candidato de sua preferência é perder não apenas a eleição, mas também a credibilidade.

Ou o que ainda resta dela.

Um comentário:

rogerio disse...

Como sempre, uma aguçada e perspicaz análise. Parabéns.