quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
W. S. O. e J. S. S.
W. S. O. e J. S. S. não são apenas duas iniciais, embora é melhor que continuem sendo conhecidos assim, para poupá-los de novos constrangimentos.
Porque, de constrangimentos e de privações W. S. O. e J. S. S. já devem estar cheios.
W. S. O. e J. S. S. são feitos de carne, osso e alma.
Talvez mais osso do que carne, talvez nem liguem para essa coisa de alma ou nem tenham tempo para se preocuparem com isso, dadas as necessidades menos transcendentais e mais reais de suas vidas.
W. S. O. e J. S. S. são dois meninos de Itabuna, meninos da Bahia, meninos do Brasil.
Meninos de um mundo absurdamente desigual.
W. S. O. e J. S. S. cresceram num meio em que lhes falta tudo, da comida que sacia a fome aos serviços básicos que garantem uma existência digna.
Integram aquela legião que a estatística aponta como excluídos sociais. Exclusão que uma considerável parte da população brasileira traz no código genético, passando de pai para filho, ainda que seja necessário destacar a validade de programas como o Bolsa Família, porta de acesso para que milhões de brasileiros rompessem a barreira da miséria absoluta e adentrassem, mesmo que de forma modesta, ao planeta cidadania.
Infelizmente esse não é o caso de W. S. O. e J. S. S., detentores da Bolsa Miséria e habitantes do planeta fome.
W. S. O. e J. S. S. são exemplos de que ainda há muito que ser feito, um longo caminho a ser percorrido para que eles e seus colegas de infortúnio deixem de ser apenas estatística.
Ou iniciais que impedem suas identificações.
Poderiam ser Wilson e João, por exemplo, colegas de escola e de time de futebol, filhos de dona Maria e seu José e de dona Antonia e seu Pedro, trabalhadores que moram num bairro onde existe saneamento, lazer, escola de qualidade e posto de saúde que funciona de verdade.
Mas são apenas W. S. O. e J. S. S., que além de engrossarem a estatística da exclusão social, agora engrossam também a estatística de menores que cometem ato infracional.
Na noite de quarta-feira, W. S. O. e J. S. S. foram apreendidos pela Polícia Militar e encaminhados ao Complexo Policial de Itabuna.
O “crime” que eles cometeram: furtar comida, brinquedo e material escolar num supermercado do Shopping Jequitibá.
Para alguns, W. S. O. e J. S. S. estavam pisando no primeiro degrau da escada da criminalidade.
Idiotice pura.
W. S. O. e J. S. S., ao pegarem comida, brinquedo e material escolar sinalizaram apenas as necessidades básicas de que eles foram privados.
Caso efetivamente subam novos degraus nessa escalada infame, a culpa é menos deles e mais de quem deveria zelar para que meninos e meninas como eles tenham presente e tenham futuro.
Um presente e um futuro que lhes está sendo roubado.
Quem é mesmo o ladrão nessa história?
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