quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Quando os mortos gritam!


Há quatro meses, o presidente da Associação dos Professores de Porto Seguro, Álvaro Henrique Santos, e o diretor da entidade, Elisney Pereira, foram assassinados num típico crime de mando, executados após uma emboscada na zona rural de uma cidade que é considerada por turistas do Brasil e do Exterior como uma versão do paraíso na Terra.

À época dos crimes, a APLB vinha promovendo uma acirrada campanha salarial, com a temperatura dos protestos atingindo níveis mercuriais, numa categoria até então marcada pela passividade e pelo conformismo.

É mais do que real a possibilidade de que Álvaro tenha sido assassinado por conta de sua militância e que Elisney morreu por estar no lugar errado e na hora errada.

O fato é que duas lideranças sindicais foram caladas a tiros, num crime que chocou os educadores e a população, com repercussão em toda a Bahia. Foram inúmeros os protestos cobrando a punição dos responsáveis e desde então a direção da APLB, agora comandada por Jurandir Nascimento, tem promovido uma espécie de vigília permanente para evitar que os crimes caiam na vala comum do esquecimento e engordem a conta vergonhosa da impunidade.

Decorridos mais de 120 dias após o duplo homicídio, se a brutalidade conta os dirigentes sindicais não foi esquecida, paira no ar essa lamentável sensação de impunidade, já que até agora, pelo menos oficialmente, a polícia não tem pistas nem sobre o autor ou autores dos disparos nem sobre quem mandou disparar.

A direção da APLB não dispõe de uma mísera informação sobre o andamento das investigações e em reunião recente com o secretário estadual de Segurança Pública, César Nunes, ouviram apenas que as apurações correm em segredo de justiça e que por isso nada pode ser revelado.

Resumo da ópera: silêncio total sobre duas mortes cujos assassinos e mandantes não podem ficar impunes, sob pena de incentivar novas tentativas de intimidação, repetindo uma prática nefasta que os baianos já sinalizaram explicitamente que não desejam ver retornar.

Ao declarar que “forças políticas conhecidas procuram impedir as investigações e punição dos mandantes e executores dos crimes, mas a sociedade do município e a Bahia não vão permitir que isso aconteça”; o presidente da Porto Seguro, Jurandir Nascimento, revela o destemor dos que lutam por Justiça.

E revela um sentimento que deve ser de todos aqueles que acreditam que a liberdade de expressão, o direito dos trabalhadores às manifestações e reivindicações e a garantia da segurança do cidadão são pilares básicos da democracia.

Uma democracia que dispensa mártires, por desnecessários que eles são num embate que deve ocorrer no campo das idéias e das propostas e não das armas.

Enquanto pairar a impunidade, os gritos de Álvaro e Elisney continuarão ecoando, não necessariamente como um sinal de desespero, mas essencialmente como um sinal de alerta.

Não existem crimes perfeitos.

Já com relação a apurações imperfeitas...

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