terça-feira, 29 de dezembro de 2009

VIDAS SECAS


Rios que viram riachos. Riachos que viram uma réstia de terra seca.

Centenas de cabeças de gado esquelético, disputando porções de água lamacenta no que restou dos açudes.

Pessoas percorrendo distâncias imensas com latas d´água na cabeça.

Nos céus, nenhuma nuvem.

E quando elas se formam, anunciando o que todos esperam, vem a decepção. Nada cai do céu.

Parece o retrato de uma das muitas regiões do sertão nordestino, onde a seca é um flagelo.

Mas é o retrato do Sul da Bahia, uma região onde tempos atrás a seca era uma coisa distante, abstrata.

A imensidão de Mata Atlântica e a exuberância das florestas garantiam um clima ameno e as chuvas providenciais.

Tempos que ficaram para trás na maior parte das terras que, de tão férteis, geravam duas safras de cacau por ano.

As cenas podem típicas dos rincões sertanejos podem ser observadas bem de perto por quem trafega pela rodovia BR 415, já a partir de Itapé, em áreas onde a lavoura de cacau, após a decadência provocada pela vassoura de bruxa foi progressivamente sendo substituída pela pecuária, uma atividade mais rentável.

A viagem prossegue por Ibicaraí, Floresta Azul, Santa Cruz da Vitória, Firmino Alves, Itororó, sai da BR 415 e entra na direção de Potiraguá. Cenários idênticos, pouco mato, muito pasto.

E, nessa época, muita, muita seca, com seus efeitos devastadores sobre a população que sofre com a falta de chuvas, que pena com a escassez de água.

Não há nada a fazer, senão olhar para o céu e apelar para a providência divina, rezar para que as nuvens, quando surgem, se transformem em chuva abundante.

Que faça encher os rios, renascer os riachos, devolver o verde e brotar a vida do chão seco.

O que ocorre no Sul da Bahia não é algo isolado.

Está inserido num contexto planetário de intermináveis agressões ao meio-ambiente, da destruição das matas e da exploração quase irracional dos recursos naturais.

Uma relação de causa e efeito onde o agressor um dia fatalmente será o agredido.

Não seria o cedo, em vez de esperar pelo imponderável, fazer alguma coisa para reverter esse quadro.

Enquanto ele ainda for reversível...

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