sábado, 12 de dezembro de 2009
Tá lá (mais um) corpo estendido no chão
Cai a noite no São Judas, bairro de classe média alta em Itabuna, onde as mansões lembram os tempos áureos do cacau.
Cai a noite no São Pedro, bairro da periferia de Itabuna, onde casas simples se misturam aos barracos, lembrando que em tempos de apogeu ou em tempos de crise, sempre há um fosso a separar pobres e ricos.
Separar?
Apenas no sentido metafórico, já que na geografia, os bairros São Judas e o São Pedro, feito os santos que lhes emprestam os nomes, estão juntos, colados um no outubro.
O bairro hipoteticamente rico e o bairro comprovadamente pobre estão ali, lado a lado, a explicitar o abismo da desigualdade social.
Mas, deixemos de lado a desigualdade e vamos direto ao que eles têm de iguais, ao que todos os bairros de Itabuna, os ricos, os de classe média, os pobres e os paupérrimos têm em comum.
Melhor dizendo, o que todos sofrem em comum: a violência.
Na quarta feira, quando caiu a noite naquele trecho que une/separa o São Judas e o São Pedro, moradores puderam ouvir o barulho de estampidos. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez
Poderia ser alguém comemorando, tardiamente, com foguetório a conquista do título brasileiro pelo Flamengo.
Mas na eram fogos, eram tiros.
E a conta não é assim: um, dois, três, quatro, cinco...
Ela é contada na casa da centena: 154, 155, 156, 158...
O número 157 atende pelo nome de Jeferson Pereira Santos, 23 anos.
O número 158 atende pelo nome de Pedro Silva Santos, 24 anos.
Ambos foram assassinados quando estavam conversando, atingidos por uma pessoa não identificada que desferiu 10 tiros.
Jeferson e Pedro são as duas mais recentes -e certamente não as últimas- de uma violência estarrecedora, que atinge principalmente os jovens e que quase sempre tem como pano de fundo o tráfico e o consumo de drogas.
Uma violência que fez de Itabuna a cidade mais perigosa do Brasil para a juventude e que, de forma perversa, parece quer justificar a cada dia esse título desonroso.
Em 2009, e ainda faltam três semanas para virar o ano, foram já foram 158 homicídios em Itabuna.
Um número alarmante, vergonhoso, assustador, mas que não chega a surpreender, em função do absurdo nível de insegurança pública que se abateu sobre a cidade.
Cai a noite, nasce o dia e os assassinatos continuam.
Nos bairros santificados como o São Judas e o São Pedro, nos bairros de nome quase obsceno como o Pau Caído e o Gogó na Ema, nos bairros de nomes genéricos como Pontalzinho e Califórnia; em toda a cidade.
Até quando?
Se nada for feito, a resposta é: até sempre!
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