sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O lorde, o dândi e o analfabeto


Fernando Henrique Cardoso, com seu jeitão de lorde, é tido e havido como um dos principais intelectuais brasileiros, suprassumo do conhecimento acadêmico, farol a iluminar a obscura vida brasileira. Exibe títulos de doutor honoris causa concedidos por universidades mundo afora, numa profusão de diplomas utilíssimos para decorar paredes. Uma pessoa sem a qual, possivelmente, a terra não giraria em torno dele, perdão, do Sol.

Caetano Veloso, no seu eterno estilo dândi, fazendo o tipo blasé, é considerado, não sem justa razão, um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos, protagonista da Tropicália, significativo movimentos da MPB e autor de letras antológicas, luminar a contrapor a excrescência dos axés, pagodes e outros lixos que nem podem ser chamados de música. Um sujeito sem a qual, possivelmente, a música brasileira seria uma espécie de buraco negro da mediocridade.

Fernando Henrique Cardoso e Caetano Veloso, cujos predicados intelectuais e musicais não podem nem devem ser ignorados, são dois ególatras de marca maior.

A idade avançada de ambos não os amadureceu o suficiente para aplacar a vaidade desmesurada e para entenderem que existe, sim, vida longe dos holofotes.

E que o mundo gira e canta sem eles.

Na busca por um brilhareco fugaz, no intervalo de uma semana, Fernando Henrique Cardoso e Caetano Veloso miraram no mesmo alvo: o presidente Lula.

Existe maneira melhor de aparecer do que atacar uma pessoa que está no esplendor do reconhecimento, no mais alto dos cumes, no centro de todas as luzes, por méritos próprios e não por obra do acaso?

Fernando Henrique e Caetano, claro, usaram a polêmica rasteira, para sair um pouco das sombras do anonimato, da aposentadoria compulsória.

Num artigo laudatório, recheado de ressentimentos e ponteado de inveja mal disfarçada, Fernando Henrique atacou Lula, a quem qualificou de autoritário e de adotar uma política equivocada na condição dos destinos do país. Bateu, de forma sutil, na falta de cultura do ex-metalúrgico Lula, entre outras diatribes, prontamente repercutidas por uma parte da mídia que lhe devota uma adoração quase divina.

Esqueceu-se de lembrar que, nos oito anos de seu mandato, o Brasil ´quebrou` três vezes, estatais foram saneadas com dinheiro público e depois privatizadas a preço de ocasião e a credibilidade do país no Exterior era nenhuma.

Caetano, que nos últimos anos só fez sucesso esporadicamente quando regravou canções bregas de sumidades tipo Peninha (quem?), foi ainda mais grosseiro. A pretexto de anunciar ao universo sua intenção de votar em Marina da Silva para presidenta, embora ache Serra bom, mas travado; Dilma boa, mas presa aos esquemas do PT; e goste de Aécio Neves (ufa!), disse com todas as letras que Lula é analfabeto, grosseiro, cafona e não sabe falar.

Óbvio que declarar o voto em Marina lhe renderia pouco espaço na mídia, mesmo a que tem orgasmos quando ele abre a boca para cometer suas pérolas. Caetano sabia, como FHC sabia, que só ganharia as manchetes se atacasse Lula.

Enquanto Fernando Henrique e Caetano Veloso, o lorde e o dândi, babavam por uma réstia de notoriedade, Lula, o analfabeto, recebia na Inglaterra, onde se reuniu com a Rainha Elizabeth, o título de liderança mundial de 2009.

Manteve-se olimpicamente indiferente ao que pensam o grande intelectual e o genial compositor, que brevemente estarão de volta às paradas de insucesso, enquanto a banda toca e a vida segue.

Sem eles...

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