quarta-feira, 28 de outubro de 2009
O Rio, realmente, é aqui
Há cerca de dois meses, dois adolescentes foram assassinados barbaramente quando soltavam pipas num campinho de futebol.
Menos de um mês atrás, uma criancinha de um ano de idade foi atingida por uma bala perdida e morreu, quando brincava de boneca dentro de casa.
No final de semana, um homem e uma mulher foram mortos a tiros, num intervalo de menos de três horas.
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Nos tempos áureos do cacau, quando todas as loucuras eram permitidas e quando tudo era possível, costumava-se dizer que o Sul da Bahia, por conta da riqueza gerada pelo cacau, era uma espécie de enclave do Sul/Sudeste do Brasil, acidentalmente encravado no Nordeste seco, pobre e subdesenvolvido.
Éramos uma Ilha de Prosperidade em meio à miséria.
Digamos que essa seja uma imagem meio esteriotipada, mas era assim que muita gente se sentia, nos modismos, nos carros último tipo, nas roupas de grife e até na torcida fanática pelos times cariocas e, em muito menor escala, paulistas.
A vassoura-de-bruxa tratou de nos devolver ao Nordeste e, daqueles anos de faustio e esplendor, só sobrou o fanatismo por Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo. Até pelo simpático América do Rio.
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Pois bem, vivemos hoje um certo clima de Rio de Janeiro, mas isso não significa que os tais anos de ouro do cacau estão de volta.
Da maneira em que eles um dia existiram, é certo que jamais voltarão.
O que nos iguala ao Rio de Janeiro nada tem de auspicioso.
Muito pelo contrário.
Um leitor menos desavisado ou afeito ao noticiário policial poderia imaginar que os assassinatos dos dois adolescentes, da criança e do casal, da forma como se deram, terem acontecido numa dessas guerras de traficantes, tão comuns no Rio de Janeiro.
Nada disso, elas aconteceram num bairro da periferia de Itabuna, o bairro São Pedro, onde existe igualmente uma guerra em que os bandidos levam nítida vantagem sobre as pessoas de bem.
E matam com uma freqüência e brutalidade que se rivalizam com seus colegas do Rio de Janeiro.
Um bairro que retrata como poucos, os alarmantes índices de criminalidade que impõem o terror e o medo.
Tudo disso diante de uma polícia incapaz de conter a violência e de um sistema que é, literalmente, de insegurança pública.
Uma situação que já passou de todos os limites suportáveis, mas que não dá mostras de arrefecer.
O Rio de Janeiro é aqui, mas de uma maneira que nunca deveria ser.
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