sábado, 26 de setembro de 2009

AS MENINAS DO VIADUTO PAULO SOUTO


Uma foto, às vezes, “fala” mais do que mil, milhões de palavras.

Em sendo assim, o que acrescentar à foto do repórter Oziel Aragão, que mostra duas adolescentes, de 14 e 16 anos, se prostituindo no viaduto Paulo Souto, no trevo entre a BR 101 e a BA 415?

Tirando essa maldita mania bajulatória de se dar nome de políticos vivos pontes, viadutos, prédios públicos e quetais, verdadeira praga nacional, a foto revela justamente a ausência do poder público, a histórica inoperância dos nossos governantes para combater essa outra praga: a exclusão social.

Pode parecer ingênuo ou piegas, mas se houvesse menos investimentos em viadutos, pontes e prédios faraônicos que alimentam a vaidade de quem lhes empresta o nome e, não raro, engorda dos bolsos de quem patrocina a obra; e fossem injetados mais recursos em educação, saúde, esporte e geração de empregos, muito provavelmente essas duas jovenzinhas não estariam ali, sob o viaduto, comercializando o corpo e a alma.

As duas meninas captadas pelas lentes de Oziel Aragão, se prostituindo em troco de 5 ou 10 reais, submetidas a humilhações, constrangimentos e muitas vezes agressões físicas; se multiplicam em viadutos, postos de gasolina e restaurantes ao longo da BR 101 e em outras rodovias brasileiras.

São centenas, milhares delas, num desfile de corpos desde cedo marcados pela brutalidade. Meninas-moças precocemente transformadas em mulheres sofridas, sem presente e sem perspectiva de futuro.

Jovenzinhas que deveriam estar na escola ou em atividades de esporte e lazer, lançadas à incerteza das estradas da vida.

Empurradas para a prostituição pela fome, pela desestrutura familiar e, conseqüência natural, pela necessidade de manter o vício das drogas.

As duas meninas sob o viaduto Paulo Souto vendem o corpo não apenas para saciar a fome, comprar roupas e perfumes baratos e eventualmente ajudar no sustento de famílias paupérrimas.

Elas oferecem ao primeiro que aparece por uma quantia irrisória também para comprar crack, essa bomba-relógio de efeito devastador.

É como se a uma tragédia pessoal se acrescentasse outra, mais outra e mais uma outra, compondo a tragédia coletiva da prostituição infanto-juvenil.

Pena que fotos que falam por mil palavras e palavras que tentam acrescentar o que as fotos falam, por mais que despertem compaixão e/ou indignação, não sirvam para mudar a vida das duas garotas do viaduto.

Por que isso não depende de compaixão ou indignação, mas de ação.

Na prática, sempre haverá gente interessada em construir mais viadutos, mais pontes, mais prédios suntuosos.

Quanto às meninas do viaduto e suas colegas de infortúnio, bem, elas que se fodam!

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