quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Vergonha.
Escárnio.
Desrespeito.
Imoral.
Ignóbil.
Palhaçada!
Será preciso recorrer ao dicionário para buscar palavras que definam a decisão do Conselho de (Falta de) Ética do Senado, que numa sessão que entrará para a história como um dos momentos mais deprimentes da política brasileira, absolveu José Sarney de todas as acusações que lhe eram imputadas. E provas não faltavam para puni-lo.
Por tabela, na mesma sessão absolveu-se também o senador Arthur Virgilio, que no frigir dos ovos pode ser considerado um beato diante dos pecadilhos e pecadões de Sarney.
A atividade política não é necessariamente um convento de inocentes freirinhas carmelitas, mas o que se perpetrou no Senado vai além do aceitável, ainda que nos acostumemos a aceitar tudo, tolerar tudo, numa espécie de anestesia geral que parece contaminar milhões de brasileiros.
A nossa capacidade de indignação tem a duração de um espasmo e depois fica tudo como está.
Os senhores senadores que livraram a cara de Sarney sabiam perfeitamente disso, eles que já deram seguidas demonstrações de desprezo a essa abstração chamada opinião pública.
Passado o estupor momentâneo, cessadas as manchetes, os sarneys virgilios, renans e collors serão esquecidos, até que apareçam outras denuncias, seja armado outro picadeiro, um novo circo se instale, para que de novo, de novo e de novo, acabe o espetáculo e fechem as acetinadas cortinas da impunidade.
No meio de tanta gente que tem folha corrigida em vez do currículo, foi doloroso ver políticos em que se depositava alguma esperança jogarem o que restava de suas biografias na lata do lixo, em nomes de acordos que podem produzir dividendos eleitorais, mas que apenas reforçam o vale-tudo, o poder pelo poder.
Mesmo a custa de proteger um Sarney, reabilitar um Collor, tratar Renan e sua Tropa de Choque como companheiros.
Observando as imagens e as falas daquela quarta-feira indecente, impossível não se lembrar de George Orwell e seu clássico “A Revolução dos Bichos”, um libelo contra um regime pretensamente igualitário que se transforma num regime opressor.
No livro, os bichos, revoltados com tanta exploração por parte do fazendeiro, tomam a propriedade e passam a ser donos de si mesmos, compartilhando tudo o que produzem. Aos poucos, os porcos, que assumiram o comando do movimento, desvirtuam a proposta inicial, vão acumulando privilégios, oprimindo os outros animais, até o ponto em que passam a não apenas negociar como também se comportar como os humanos.
A parte final do livro é antológica: acuados, assustados e esfomeados os animais olham pela janela da casa sede da fazenda os porcos e humanos comendo, bebendo, fumando charutos e rindo.
Naquele momento, já não era mais possível saber quem era porco e quem era humano.
Qualquer semelhança com o que está acontece no Congresso Nacional não é mera coincidência.
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