segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Até breve ou até nunca mais?


“O anel que tu me deste era vidro e se quebrou/o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou”.

E cada um mandou o outro plantar batatas, embora deixando um pequeno espaço, exíguo e improvável espaço, para que voltem a dividir a mesma colheita.

A atividade política, como se sabe, está longe parecer uma canção de ninar. Ao contrário, há momentos em que é melhor deixar as crianças bem longe, com seus ouvidos ainda ingênuos.

Mas, como era previsível, a aliança que era de vidro e não de um metal nobre se quebrou. O amor, se é que houve, era pouco e se findou.

Sem a candura dos contos de fada, sem a doce sonoridade das canções de ninar, acabou-se a aliança entre o PT e o PMDB, estratégica para vencer as eleições na Bahia e por fim a duas décadas de domínio carlista, mas que não conseguiu resistir às disputas pelo poder, ao desejo que cada partido tem de comandar a máquina administrativa.

A eleição de Jaques Wagner, nas circunstâncias históricas em que se deu, o colocou como candidato natural a reeleição. Um fato consumado.

Faltou combinar com o PMDB, que apesar de ter ficado com um naco importante -e justo- do governo estadual, nunca de contentou com o papel de coadjuvante.

Ao longo dessa convivência nem sempre harmoniosa, foram inúmeras as vezes em que o cacique peemedebista Geddel Vieira Lima se colocou, pela própria voz ou através de seus aliados, como candidato à sucessão de Wagner. Como se fosse possível haver dois candidatos dentro de um mesmo governo!

Jaques Wagner, republicano e conciliador ao extremo, fez ouvidos de mercador a incontáveis provocações dos peemedebistas, algumas delas resvalando para a baixaria, exemplo de umas pretensas palmadas sugeridas pelo presidente estadual do partido.

Republicano, conciliador, mas não covarde nem insensível, o governador, que não é dado à verborragia, reagiu com dureza, condenou a postura dos pretensos aliados e exigiu uma definição do PMDB: ou ficava no governo, ou saia (entenda-se por “saia”: entregar os cargos).

Depois de tanta provocação, das ocasiões em que se dispôs a sair do barco governista, a postura dura de Wagner só deixava duas alternativas: baixar a guarda e buscar uma composição em que Geddel disputaria o Senado ou entregar os cargos e romper com o PT.

Produziu-se a ruptura anunciada, tão previsível como o nascer e o por do sol.

Produziu-se também uma troca de farpas, uma sucessão de labaredas que os raros bombeiros de lado a lado ainda tentam apagar, ainda acreditando que PT e PMDB possam estar juntos num eventual segundo turno nas eleições governamentais de 2010.

Difícil? Impossível?

Só o tempo dirá.

O tempo, as pesquisas eleitorais, o cenário político em 2010...

O encanto, definitivamente, se quebrou, mas em política quando se acha que já viu tudo, sempre há algo para ver.

E o casa separa, casa de novo, o bate afaga, afaga e bate não são propriamente uma raridade nesse negócio em que vão se os anéis, ficam os dedos e às vezes entrega-se as duas mãos para recuperar os anéis.

Em que nem toda a nudez é castigada e até as mais escandalosas das traições são perdoadas, quando não ignoradas.

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