quinta-feira, 11 de junho de 2009

VIAGEM AO FUNDO DO MAR

Dez dias depois do acidente com o Airbus 330 da Air France, que caiu no mar levando junto mais de duas centenas de vidas, ainda permanece uma interrogação sobre a verdadeira causa da tragédia.

Nem os maiores especialistas em aviação conseguem explicar o que levou uma aeronave nova, conduzida por um piloto experiente e voando em condições aparentemente seguras, a sofrer uma série de panes até se transformar numa incontrolável máquina de 200 toneladas, mergulhada num vôo cego e irreversível.

As estatísticas, sempre elas, apontam que o avião é um dos meios de transporte mais seguros do mundo. Corre-se menos risco de sofrer um acidente aéreo, do que, por exemplo, de morrer nas rodovias, ferrovias e nos mares. As mesmas estatísticas baseadas sabe-se lá em que, revelam que é mais arriscado andar a pé do que de avião.

Pois as estatísticas perdem o sentido diante da dimensão humana de tragédias como o do vôo da Air France, que deveria terminar na Paris que tantos sonhos românticos embala e que terminou num ponto ainda não identificado nas profundezas do Oceano Atlântico.

É possível que diante da tecnologia disponível (a mesma tecnologia que não evita acidentes aparentemente impossíveis nem o surgimento de doenças de séculos passados, é bom que se diga) seja revelado com exatidão o que levou à queda do avião que não deveria cair.

Mas, essa é uma tragédia que vai além da frieza das estatísticas ou do avanço tecnológico.

Ela envolve histórias humanas e é nisso que reside a sua trágica grandiosidade.

Acidentes dessa envergadura, em meio à dor e a incredulidade de parentes e amigos, costumam revelar histórias pessoais que projetavam o futuro e foram interrompidas em questão de minutos ou de segundos.

Do casal que iria passar a segunda lua de mel nas Ilhas Gregas, às três funcionárias de Justiça que iriam curtir planejadas e ansiadas férias em Paris, passando pelos italianos que vieram ao Brasil especialmente para fazer uma doação em dinheiro às vítimas das enchentes em Santa Catarina, pelo grupo de franceses que ganhou como prêmio num concurso uma viagem ao Brasil e pela funcionaria da Petrobrás que adiou o vôo por conta de um conflito nos confins da Ásia; todos tinham histórias de vida.

Que se transformaram numa história coletiva de morte.

Havia até um príncipe, que a morte prematura impediu de encontrar sua princesa e escrever uma história de contas de fadas, tão necessária num mundo altamente competitivo e globalizado, em que as poucos se perde até a capacidade de sonhar.

Naquela noite chuvosa e especialmente turbulenta nos céus sobre o Oceano Atlântico, rota de tantos e tantos vôos que partem e chegam ao destino, a máquina criada pelo brasileiro Santos Dumont (que fez seu primeiro vôo na mesma Paris que era o destino do Airbus A330), e que evoluiu na mesmo proporção em que a tecnologia avançou, curvou-se diante do imponderável, feito um pássaro que repentinamente perde a capacidade de voar e mergulha como se asas não tivesse.

O final infeliz de todos os passageiros do desafortunado vôo da Air France, impedidos de escreverem o final feliz de cada um, nos leva a refletir sobre o sentido da vida, sua brevidade e imponderabilidade.

Sobre o próprio sentido da vida.

Navegar é preciso, voar é preciso. Mas, ao contrario do que dizem os versos do poeta Fernando Pessoa, viver é preciso.

Enquanto vida há para ser vivida.

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