sábado, 6 de junho de 2009

O SENHOR DAS MATAS



Pode ser coincidência, mas não deve ser obra do acaso, que o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) seja comemorado em data tão próxima ao Dia Internacional do Cacau (7 de junho).

Se o Sul da Bahia preserva uma das poucas áreas remanescentes de Mata Atlântica no Brasil, espetacular paraíso da biodiversidade, isso se deve ao cacau.

O cacaueiro necessita de sombra para produzir o fruto que tantas riquezas gerou para a Região e as árvores da Mata Atlântica permitiram, ao longo de décadas, esse casamento que resultou na produção de cacau e na conservação do meio-ambiente. Um modelo de produção que é conhecido como cacau cabruca.

A chegada da vassoura-de-bruxa provocou uma espécie de crise nesse casamento, já que, descapitalizados, muitos produtores deixaram o cacau de lado e derrubaram a mata, seja para vender a madeira, seja para transformá-la em pasto, substituindo a lavoura pela pecuária.

Em função disso, nos últimos vinte anos, acentuou-se a devastação da Mata Atlântica, mas ainda assim, o que se conseguiu preservar compõe um patrimônio ambiental importante.

Daí a necessidade de conter o desmatamento.



Algumas iniciativas contribuíram para despertar no produtor de cacau, a despeito de todas as dificuldades enfrentadas por causa da falta de recursos, a importância de manter o modelo preservacionista. Um bom é exemplo é o Instituto Cabruca, com seu trabalho incansável, que começa a gerar resultados.

O instituto foi criado para desenvolver projetos que agreguem valor ao cacau e incentivem a utilização sustentável de espécies nativas.

Conscientizar é importante, mas não resolve, já que muitas vezes a necessidade sobrepõe-se à vontade.

É preciso que os produtores recebam algum tipo de incentivo, financeiro principalmente, para produzir cacau e ao mesmo tempo preservar a Mata Atlântica.

Nesse sentido, é mais do que oportuno o Projeto de Lei 4995 de 2009, de autoria do deputado federal Geraldo Simões (PT/BA), que aponta o sistema Cabruca como alternativa rentável à preservação do bioma da Mata Atlântica, através do desenvolvimento sustentável, em que a atividade econômica está atrelada à conservação ambiental. O projeto oferece vantagens para quem cultiva cacau em áreas de Mata Atlântica.

A esse projeto, some-se a decisão do Banco do Nordeste, após gestões feitas pelo governador Jaques Wagner e pelo secretário de Agricultura Roberto Muniz, com o aval dos segmentos da lavoura, de incluir o cacau no FNE Verde.

Além de melhorar as condições para a renegociação das dívidas dos produtores, o FNE Verde tem como foco justamente a produção através da sustentabilidade. No caso do cacau, vai premiar quem conserva a Mata Atlântica.

Com ações concretas, poderemos retornar a força desse “casamento” Cacau-Mata Atlântica, legando para as gerações futuras uma região que se orgulhe não apenas de conservar o meio-ambiente, mas também se oferecer qualidade de vida para a sua população.

Talvez esteja aí o verdadeiro significado da expressão “fruto de ouro”.

Não no sentido de riqueza desmedida, desperdício perdulário e desigualdade social entre os poucos muito ricos e os muitos muito pobres.

Mas no sentido de prosperidade compartilhada, conservação ambiental e atividade econômica diversificada e calcada em bases sólidas.

Pode parecer sonho.

Mas nada que seja impossível numa região que, com trabalho e espírito empreendedor, fez brotar uma civilização capaz de suportar todas as crises e sempre dar a volta por cima.

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