terça-feira, 19 de maio de 2009

TRISTES MANHÃS DE DOMINGO


Domingo, 11 horas da manhã. Dia tranqüilo no bairro São Caetano, em Itabuna, antes que os bares comecem a lotar e dar vida ao local.

Numa rua igualmente tranqüila, um grupo formado por cerca de cinco meninos fuma crack na frente dos moradores. Passam de mão em mão o inconfundível cachimbo improvisado. Numa outra esquina, são três meninos deitados no chão, se drogando.

A idade dos menos varia entre 8 e 12 anos. Apenas um deles, com jeito de líder da turma, aparenta ter uns 16 anos.

Estão todos descalços, com roupas rasgadas, o olhar perdido, transpirando revolta.

Abordado por um morador sobre o uso da droga, um dos meninos responde secamente:

-Ô tio, fodidos como nós vive, só chapado mesmo.

E lá foi a turma de meninos drogados, batendo de porta em porta, pedindo comida, uma roupa velha. Com o jeito ameaçador de quem não tem nem tem o direito de ser criança e para quem a vida não faz qualquer sentido.

Os meninos do São Caetano são os meninos do Santo Antonio, do Conceição, do Pontalzinho, do Califórnia, do centro da cidade.

De Itabuna, de Ilhéus. Meninos do Brasil.

São milhares, talvez milhões. Lançados à própria sorte.

Sem casa e sem família.

Sem saúde, sem escola, sem lazer.

Sem futuro.

Para esses meninos, não basta a repressão policial, o encaminhamento para os centros de recuperação que na maioria das vezes não recuperam e se tornam um curso avançado para o mundo do crime.

Não basta, também, localizar e prender os traficantes que vendem drogas abertamente, uma das razões para a assustadora escalada do crack, antes reduzida à capital paulista e que se espalhou para todo o Brasil, nas grandes médias e pequenas cidades, em todas as classes sociais.

O que esses meninos necessitam é de políticas públicas eficientes que os tirem das ruas.

Emprego para seus pais, direito a habitação, escola, atividades culturais e esportivas.

Coisas que para esses menores excluídos não passam de abstração, delírio.

Nossos políticos, inebriados e entorpecidos pela droga do poder, deveriam abrir os olhos (ou sair do torpor) e dar atenção a essa legião de meninos sem futuro, a perambular por ruas e praças.

Não dá para pensar num país com justiça social enquanto houver crianças que trocam o brinquedo pela droga e, num segundo e inevitável estágio, pelas armas, espreitando a morte prematura e inevitável em cada esquina.

Impossível não se comover com o infortúnio desses meninos e meninas que poderiam ser nossos filhos, afundados na drogas em tristes manhãs de domingo e em todos os dias da semana.

Mas, de comoção é o que eles menos precisam.

Eles precisam é de ação.

Que rima com educação, com inclusão.

E que rima também, mas não deveria, com omissão!

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